Nesta última WWDC, a Apple anunciou um dos segredos mais mal guardados dos últimos anos: a transição de processadores Intel para ARM (ou, como a Apple chamou, Apple Silicon) na sua linha de Macs.
Quem acompanha o mercado de perto sabe que não faltaram sinais de que esta decisão estava nas cartas. O mais revelador deles foi durante a tradicional conferência telefónica do CEO Tim Cook e do CFO Luca Maestri com a imprensa, para comentar os resultados financeiros da empresa.
Durante a chamada, perguntados sobre o desempenho da linha de Macs, os executivos disseram com bastante franqueza que a Intel era a culpada pelo desempenho aquém do esperado.
Todos souberam exatamente do que se tratava. Ao longo dos últimos anos, a Intel deixou de ser vista como uma das referências absolutas no mercado de processadores e passou a ficar mais conhecida como a empresa que volta e meia anunciava atrasos e adiamentos no roadmap do lançamento e da evolução dos seus processadores.
Se outrora a estratégia da empresa era conhecida como tick-tock, sendo o “tick” o lançamento de uma geração nova de processadores em um ano, e o “tock” o lançamento revisto e melhorado desses processadores no ano seguinte, recentemente a piada era que a Intel havia adotado a estratégia do tick-tock-tock-tock-tock… graças aos frequentes atrasos e ajustes no seu calendário.
Ao mesmo tempo que a Intel metia os pés pelas mãos e conseguia a façanha de perder a confiança de um mercado em que que ela operava praticamente sozinha, a arquitetura ARM para a fabricação processadores decolou. De dispositivos móveis a IoT, o uso desses processadores cresceu absurdamente, e uma das empresas que adotaram esse set de instruções para processadores foi a Apple.
Ao longo da última década, ela contratou um sem-número de engenheiros e executivos ligados à fabricação de processadores ARM. O resultado foi o processador A4 do iPad de primeira geração, à época apenas fabricado pela Samsung. E deu certo! A transição foi bastante suave, e abriu caminho para a Apple se tornar a fabricante de alguns dos processadores mais eficientes do mundo, mesmo quando comparados com processadores de PCs.
Mas essa não foi a primeira grande transição de processadores feita pela Apple. Ironicamente, a primeira grande transição aconteceu na linha de Macs! Mais ironicamente ainda, foi quando a Apple desistiu da ideia de usar processadores Power PC e resolveu passar a equipar os seus Macs com processadores Intel.
Naquela ocasião, Steve Jobs subiu ao palco da WWDC e anunciou que “o Mac havia vivido uma vida dupla nos últimos anos”: junto do desenvolvimento do Mac OS X para Power PC, o sistema também estava há algum tempo a ser desenvolvido concomitantemente para a arquitetura dos chips da Intel, o que significava que os desenvolvedores teriam um trabalho bastante pequeno durante a transição.
O roadmap anunciado foi basicamente idêntico ao do roadmap da nova transição de 2020/2021: os primeiros Macs com os novos processadores seriam lançados até ao final do ano, e a transição completa para todos os Macs aconteceria em dois anos. Ela foi concluída em um.
O que nos traz ao cenário atual. Com a nova transição, essa sob a liderança de Tim Cook, o executivo terá que superar não só as expectativas propostas pela Apple na WWDC e o desafio técnico à mão, mas também o sucesso da transição anterior. De certa forma, é a situação perfeita para quem insiste em comparar o desempenho e a liderança de Tim Cook com a de Steve Jobs esquecendo que a Apple e o mercado de hoje são absolutamente diferentes da Apple e do mercado de antes.
Em 2005/2006, a transição foi perfeita. Por outro lado, a quantidade de Macs em uso e a quantidade de aplicações (ou melhor, programas) disponíveis para o sistema eram apenas frações do que existem hoje. Ainda assim, a comparação será inevitável especialmente se, porventura, acontecerem percalços pelo caminho.
Talvez por isso na WWDC 2020, a Apple tenha feito questão de mostrar as inúmeras ferramentas que serão disponibilizadas para facilitar a vida dos desenvolvedores (e, claro, a dela própria) nesta transição. Além disso, também separou um tempo importante da apresentação para mostrar que a Adobe e a Microsoft já estão a bordo do projeto, desenvolvendo versões adaptadas das suas suítes de produtividade e criatividade para esses novos Macs.
Tim Cook tem a seu favor o facto de ser um executivo de operações. E conquistou a confiança para grandes mudanças após a transição do sistema de arquivos do iOS de HFS+ para APFS. Steve Jobs tinha a seu favor o facto de ser, bem, Steve Jobs. Sou o primeiro a dizer que a comparação entre os dois tornou-se cansativa há alguns anos, mas todos sabemos que desta vez será inevitável: se a transição de Macs para o Apple Silicon se provar um sucesso, Tim Cook terá capitaneado uma das a maiores mudanças estratégicas da história da empresa. Por outro lado, caso algo dê errado, os corneteiros de plantão poderão bradar com conhecimento de causa que “Se fosse com o Steve Jobs, isso não teria acontecido”.
Na semana passada, surgiram rumores que indicavam um possível lançamento dos novos modelos do iPad Pro e do iPad Air para ontem, terça-feira, 26 de março.
O site chinês IT Home, baseando-se em várias listagens da Amazon de capas de terceiros - e não com base em informações específicas de
Nesta última WWDC, a Apple anunciou um dos segredos mais mal guardados dos últimos anos: a transição de processadores Intel para ARM (ou, como a Apple chamou, Apple Silicon) na sua linha de Macs.
Quem acompanha o mercado de perto sabe que não faltaram sinais de que esta decisão estava nas cartas. O mais revelador deles foi durante a tradicional conferência telefónica do CEO Tim Cook e do CFO Luca Maestri com a imprensa, para comentar os resultados financeiros da empresa.
Durante a chamada, perguntados sobre o desempenho da linha de Macs, os executivos disseram com bastante franqueza que a Intel era a culpada pelo desempenho aquém do esperado.
Todos souberam exatamente do que se tratava. Ao longo dos últimos anos, a Intel deixou de ser vista como uma das referências absolutas no mercado de processadores e passou a ficar mais conhecida como a empresa que volta e meia anunciava atrasos e adiamentos no roadmap do lançamento e da evolução dos seus processadores.
Se outrora a estratégia da empresa era conhecida como tick-tock, sendo o “tick” o lançamento de uma geração nova de processadores em um ano, e o “tock” o lançamento revisto e melhorado desses processadores no ano seguinte, recentemente a piada era que a Intel havia adotado a estratégia do tick-tock-tock-tock-tock… graças aos frequentes atrasos e ajustes no seu calendário.
Ao mesmo tempo que a Intel metia os pés pelas mãos e conseguia a façanha de perder a confiança de um mercado em que que ela operava praticamente sozinha, a arquitetura ARM para a fabricação processadores decolou. De dispositivos móveis a IoT, o uso desses processadores cresceu absurdamente, e uma das empresas que adotaram esse set de instruções para processadores foi a Apple.
Ao longo da última década, ela contratou um sem-número de engenheiros e executivos ligados à fabricação de processadores ARM. O resultado foi o processador A4 do iPad de primeira geração, à época apenas fabricado pela Samsung. E deu certo! A transição foi bastante suave, e abriu caminho para a Apple se tornar a fabricante de alguns dos processadores mais eficientes do mundo, mesmo quando comparados com processadores de PCs.
Mas essa não foi a primeira grande transição de processadores feita pela Apple. Ironicamente, a primeira grande transição aconteceu na linha de Macs! Mais ironicamente ainda, foi quando a Apple desistiu da ideia de usar processadores Power PC e resolveu passar a equipar os seus Macs com processadores Intel.
Naquela ocasião, Steve Jobs subiu ao palco da WWDC e anunciou que “o Mac havia vivido uma vida dupla nos últimos anos”: junto do desenvolvimento do Mac OS X para Power PC, o sistema também estava há algum tempo a ser desenvolvido concomitantemente para a arquitetura dos chips da Intel, o que significava que os desenvolvedores teriam um trabalho bastante pequeno durante a transição.
O roadmap anunciado foi basicamente idêntico ao do roadmap da nova transição de 2020/2021: os primeiros Macs com os novos processadores seriam lançados até ao final do ano, e a transição completa para todos os Macs aconteceria em dois anos. Ela foi concluída em um.
O que nos traz ao cenário atual. Com a nova transição, essa sob a liderança de Tim Cook, o executivo terá que superar não só as expectativas propostas pela Apple na WWDC e o desafio técnico à mão, mas também o sucesso da transição anterior. De certa forma, é a situação perfeita para quem insiste em comparar o desempenho e a liderança de Tim Cook com a de Steve Jobs esquecendo que a Apple e o mercado de hoje são absolutamente diferentes da Apple e do mercado de antes.
Em 2005/2006, a transição foi perfeita. Por outro lado, a quantidade de Macs em uso e a quantidade de aplicações (ou melhor, programas) disponíveis para o sistema eram apenas frações do que existem hoje. Ainda assim, a comparação será inevitável especialmente se, porventura, acontecerem percalços pelo caminho.
Talvez por isso na WWDC 2020, a Apple tenha feito questão de mostrar as inúmeras ferramentas que serão disponibilizadas para facilitar a vida dos desenvolvedores (e, claro, a dela própria) nesta transição. Além disso, também separou um tempo importante da apresentação para mostrar que a Adobe e a Microsoft já estão a bordo do projeto, desenvolvendo versões adaptadas das suas suítes de produtividade e criatividade para esses novos Macs.
Tim Cook tem a seu favor o facto de ser um executivo de operações. E conquistou a confiança para grandes mudanças após a transição do sistema de arquivos do iOS de HFS+ para APFS. Steve Jobs tinha a seu favor o facto de ser, bem, Steve Jobs. Sou o primeiro a dizer que a comparação entre os dois tornou-se cansativa há alguns anos, mas todos sabemos que desta vez será inevitável: se a transição de Macs para o Apple Silicon se provar um sucesso, Tim Cook terá capitaneado uma das a maiores mudanças estratégicas da história da empresa. Por outro lado, caso algo dê errado, os corneteiros de plantão poderão bradar com conhecimento de causa que “Se fosse com o Steve Jobs, isso não teria acontecido”.
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