Afinal os AirPods causam danos no cérebro ou cancro?
Gonçalo Antunes de Oliveira

Afinal os AirPods causam danos no cérebro ou cancro?

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O mundo em que vivemos está cada vez mais confortável graças aos extraordinários avanços decorrentes da evolução tecnológica. Em apenas algumas décadas, as mais simples ações do nosso quotidiano atalharam procedimentos e assentam na ideia de que os objetos que necessitamos para as executar, ou já não existem ou são "invisíveis".

Para quê digitar um código PIN quando temos cartões Contactless. Melhor ainda: para quê sequer ter um cartão quando a Wallet e o Apple Pay podem fazer o mesmo com o iPhone ou com o Apple Watch? Atalhar procedimentos é mesmo isso. Ter um cartão, a carteira para o guardar, retirá-lo da carteira para pagar, código PIN, guardar... ufa... já estou cansado. O cartão "invisível" é tão mais agradável. Não se perde e é seguro. A desmaterialização em pleno curso.

Então e a tonelada de fios que precisamos para ligar tudo e mais alguma coisa? Tudo emaranhado, só transformadores. Para cada aparelho é um diferente por entre extensões de tomadas. Antigamente era comum ir comprar uma extensão tripla. Hoje, oito tomadas quase que não chegam.

E é aqui que quero chegar. Estamos cada vez mais soltos da prisão dos fios e da confusão. Tudo é cada vez mais automático. Móvel. Livre. O escritório é onde tu quiseres. A sala também. Até já existem protótipos de casas em que os dispositivos começam a carregar assim que entramos nelas!

Mas, em tempos idos, quando apareceram os telemóveis, já me havia perguntado: então e estas novas ondas que pairam pelo ar? O telefone aquece muito a zona do meu ouvido enquanto falo. Se os microondas são revestidos com materiais de proteção que impedem a libertação de radiação, então e os telemóveis? E hoje, com tudo a funcionar via Bluetooth, as luzes todas da casa ligadas a hubs... se as ondas que ligam tudo a tudo fossem visíveis, talvez enlouquecessemos com a confusão.

A pergunta sobre o preço a pagar por tamanho conforto é pertinente e, longe de merecer o escárnio, tem vindo a ser profusamente estudada. Sim, porque uma coisa é refletir, inquirir e alertar, e outra são boatos e pânico lançados na Internet por fanáticos e sensacionalistas desesperados por clicks e visualizações.

A investigação e os dados científicos têm como finalidade – mais: como missão – informar e esclarecer aqueles que, como nós, não compreendemos os detalhes técnicos da realidade que nos rodeia. A confiança na Ciência deverá, em princípio, ser o que nos permite viver o dia a dia com mais tranquilidade (atenção que não descarto aqui a fé e a crença religiosa. Mas isso são outros assuntos).

Radiação não-ionizante

É disto que estou a falar. Para ser bem objetivo, vou citar a Direção Geral de Saúde, a partir da página dedicada a esta questão, que podes ver, aqui.

A radiação não-ionizante caracteriza-se pelo facto de não transportar energia suficiente que permita quebrar as ligações entre partículas dos átomos, ou seja, não tem a capacidade de produzir ionização.

Existe inclusivamente uma Comissão Internacional de Proteção Contra Radiação Não-Ionizante (ICNIRP), cuja página contém informação muito relevante para quem quer saber mais sobre este assunto. A Organização Mundial de Saúde dedica uma secção específica à exposição a campos electromagnéticos disponiblizando um esclarecedor artigo alusivo ao tema da radiação emitida por telemóveis, que poderás ler aqui.

Espectro Electromagnético | Fonte: Michael Krummer
Espectro Electromagnético | Fonte: Michael Krummer

Pois... mas e então sobre os AirPods?

O tema é delicado e portanto, como devemos fazer em tudo na nossa vida, mais do que o ditado "O saber não ocupa lugar", temos que ter presente que o saber esclarece, salva vidas e melhora a Humanidade.

Segundo o artigo intutulado Real-world cell phone radiofrequency electromagnetic field exposures, publicado em 2019 na revista Environmental Research:

Não existem ainda evidências suficientes que demontrem  que os auscultadores wireless representam riscos para a saúde que legitimem a sua não utilização.

Em 2011, a Agência Internacional para a Investigação sobre o Cancro da Organização Mundial de Saúde publicou um sistema de classificação que relaciona a exposição dos seres humanos a campos eletromagnéticos com a probabilidade de contraír cancro. Neste âmbito a Organização Mundial de Saúde afirmou:

Atualmente, não existem evidências comprovadas de que os campos eletromagnéticos de baixo nível previstos para os Apple AirPods possam causar cancro.
AirPods Pro | Fonte: Apple
AirPods Pro | Fonte: Apple

Conclusão

Concluo este artigo com um fact-checking emitido pela agência Reuters. Mais particularmente com a resposta da própria Apple a esta agência informativa. Fará algum sentido crer no que dizem, tendo em conta que, se a realidade for diferente, a confiança na marca sofrerá um gigantesco abalo, o que se traduzirá numa redução drástica da procura. E a Apple não quer isso, pois não?

Levamos muito a sério a saúde e a segurança dos nossos clientes. Projetamos todos os nossos produtos com cuidado e os testamo-los extensivamente para garantir que cumprem os requisitos de segurança aplicáveis.
Os AirPods e outros dispositivos sem fio da Apple cumprem com todas as diretrizes e limites de exposição à radiofrequência aplicáveis. Além disso, os AirPods e os AirPods Pro estão mais de duas vezes abaixo dos limites aplicáveis de exposição à radiofrequência.

Portanto, e até haver provas em contrário, não acreditem em tudo o que se vê e lê nas redes sociais. Não haver evidências significa que até à data todos os testes realizados em estudos científicos infirmaram a pergunta de partida.

Portanto, parece seguro afirmar que os AirPods (ou qualquer outro auscultador Wireless que cumpra os limites aplicáveis de exposição à radiofrequência) não irão, de facto, fritar o nosso cérebro.

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Curiosidades