F1 - O Filme (crítica): Vale a pena ver a nova produção da Apple?

Brad Pitt e Damson Idris ao volante dos carros de Fórmula 1 são suficientes para que a superprodução da Apple conquiste os espectadores?

27 de Jun de 2025
F1 - O Filme (crítica): Vale a pena ver a nova produção da Apple?
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Atenção: esta publicação pode conter spoilers.

“F1: O Filme” é a mais recente produção cinematográfica da Apple Original Films, realizada por Joseph Kosinski e produzida por veteranos da indústria como Jerry Bruckheimer, Dede Gardner, Jeremy Kleiner e Chad Oman. Com um orçamento avultado e ambições claras, a longa-metragem pretende transportar o espetador para o coração do automobilismo, oferecendo-lhe uma experiência visual e sonora intensa, capaz de captar a energia e o caos das corridas em circuitos reais.

Neste filme, Kosinski repete a aposta já vista em "Top Gun: Maverick", que privilegia as filmagens em ambientes autênticos em vez de recorrer excessivamente a efeitos digitais. O resultado é um espetáculo cinematográfico que, embora tecnicamente irrepreensível e visualmente arrebatador, é sujeito a uma análise mais crítica quando nos debruçamos no desenvolvimento das personagens e na profundidade narrativa.

Corridas estonteantes que nos deixam sem respiração

Se, por um lado, o enredo não é particularmente inovador, o mesmo não se pode dizer da parte técnica. "F1 – O Filme" foi rodado em circuitos reais, nos intervalos dos Grandes Prémios da principal categoria do automobilismo, captando com uma verossimilhança inédita a energia e o caos que se vivem nas pistas. Joseph Kosinski, conhecido pelo seu trabalho em Top Gun: Maverick, volta a dar primazia às filmagens em ambientes reais, em vez de recorrer extensivamente a efeitos visuais — e o resultado é surpreendente.

Para participarem na longa-metragem, Brad Pitt e Damson Idris tiveram de treinar durante quatro meses e conduzir carros de Fórmula 2 modificados. Os atores chegaram mesmo a ultrapassar os 250 km/h e a gravar cenas rápidas, num só take.

Apesar dos desafios, a equipa conseguiu fazer um trabalho notável e encontrar o equilíbrio certo entre a confusão da velocidade e a clareza narrativa. O espectador é colocado no cockpit para sentir cada curva, cada colisão iminente, cada decisão tomada numa fração de segundo. Dá-se primazia aos planos íntimos e realistas, muitas vezes com a câmara montada diretamente nos monolugares, o que proporciona uma sensação de imersão única.

A banda sonora de Hans Zimmer, por sua vez, é outro elemento crucial. Através do som, o compositor transforma cada corrida num crescendo emocional, como se cada volta fosse uma questão de vida ou de morte. O design de som chega mesmo a beirar o documental: os motores rugem com ferocidade, os pneus protestam em cada curva, e o silêncio dentro do capacete de um piloto antes da partida carrega tanto peso quanto uma linha de diálogo.

Contexto e profundidade das personagens podiam ter sido mais explorados

Infelizmente, todo este realismo técnico não é acompanhado por um cuidado equivalente na construção das personagens. Apesar de Brad Pitt apresentar uma performance sólida, esta revela-se algo previsível. A personagem que interpreta, Sonny Hayes, é um anti-herói carismático, marcado por traumas mal resolvidos e pelo charme cínico que Pitt sabe evidenciar como poucos. No entanto, a sua jornada interior, embora emocionalmente compreensível, carece de nuances e profundidade. Hayes acaba por ser reduzido a frases de efeito, olhares melancólicos e momentos de sabedoria paternalista dirigidos ao jovem Pearce (Damson Idris).

Neste último, recai outro exemplo de potencial mal aproveitado. Idris representa de forma convincente a arrogância impulsiva típica de um novato talentoso, mas o guião de Ehren Kruger consegue-lhe pouco mais do que isso. A sua evolução narrativa ocorre de forma quase automática, sem espaço para momentos genuínos de reflexão ou transformação pessoal.

O mesmo problema afeta outras personagens secundárias. Ruben Cervantes, interpretado por Javier Bardem, surge como uma figura afável e ligeiramente patética, servindo mais como elemento de transição do que como peça relevante para o desenrolar da história.

Mais flagrante ainda é o caso de Kate McKenna (Kerry Condon), diretora técnica da APXGP. Apresentada inicialmente como a primeira mulher a ocupar esse cargo numa equipa de Fórmula 1, McKenna surge com uma promessa de força e individualidade. Contudo, essa promessa é rapidamente anulada quando a personagem se transforma no interesse amoroso de Hayes — um desenvolvimento narrativo desnecessário, preguiçoso e francamente dececionante, sobretudo numa altura em que o cinema já deveria ter ultrapassado este tipo de fórmula.

Apreciação final

"F1 - O Filme" tem ambições muito bem vincadas e pretende ser para o automobilismo aquilo que "Top Gun: Maverick" foi para a aviação: uma experiência cinematográfica intensa, enérgica e tecnicamente irrepreensível. E, nesse aspeto, a missão é largamente cumprida.

A longa-metragem é visualmente arrebatadora, tecnicamente impressionante e capaz de despertar algumas emoções no espetador. Funciona muito bem enquanto espetáculo cinematográfico e é especialmente apelativa para os entusiastas dos filmes de ação e do desporto de alta velocidade. Porém, é também um produto com uma fórmula já conhecida — irónico, dado o nome do filme —, com personagens pouco desenvolvidas, um enredo previsível (apoiado em arquétipos gastos), e uma abordagem que privilegia o estilo em detrimento da substância.

Posto isto, será que vale a pena ver "F1 - O Filme"? Sem dúvida! Principalmente, se tiveres a oportunidade de o ver numa sala IMAX, onde o som e a imagem potenciam ao máximo a experiência... No entanto, não esperes que este se torne o filme da tua vida.

Nota: 7/10
País de origem: Estados Unidos
Data de estreia: 26 de junho de 2025, em Portugal
Duração: 2h35min
Realização: Joseph Kosinski
Argumento: Ehren Kruger e Joseph Kosinski
Elenco: Brad Pitt, Damson Idris, Kerry Condon, Tobias Menzies, Kim Bodnia, Javier Bardem, entre outros.

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