O curioso caso do Widgetsmith
Marcus Mendes

O curioso caso do Widgetsmith

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Eu sou fã do programador David Smith desde o lançamento da app Pedometer++, à ocasião da chegada do iPhone 5s em 2013.

Com a implementação do co-processador de movimento M7, o iPhone ganharia a possibilidade de contar os passos dados pelo utilizador. E o Pedometer++, que uso até hoje, foi a primeiríssima app lançada na App Store para tirar proveito da novidade.

Lembro-me de na época ter escutado em algum podcast, ou talvez de ter lido em algum lugar, que o desenvolvedor havia se preocupado em fazer rapidamente uma boa app para disponibilizar na App Store logo no lançamento. E com o passar dos anos, notei que esta inquietação de fazer aplicações úteis e que aproveitassem das novidades do iOS e do iPhone logo nos primeiros dias de disponibilidade haviam se tornado numa espécie de modus-operandi de Smith.

Por isso, não foi surpresa que, logo no precoce lançamento do iOS 14, lá estava uma app do desenvolvedor a marcar presença na App Store. Widgetsmith, uma espécie de evolução da aplicação Watchsmith lançada meses antes sem tanto sucesso ou alarde, era um tanto feiosa porém igualmente (ou mais) funcional do que a versão para o relógio.

Poucos dia depois, a app explodiu em popularidade. Creio que uma influenciadora do TikTok tenha sido uma das principais responsáveis por esse boost inicial e, horas depois, a app já havia alcançado o top das App Stores de todo o mundo, incluindo Brasil e Portugal.

Este sucesso repentino e inesperado não passou despercebido. Toda a comunidade de desenvolvimento, que partilha da mesma simpatia que sinto por Smith, comemorou o sucesso da app como se fossem as suas próprias apps que tivessem atingido o top dos rankings pelo mundo. Os comentários eram todos parecidos, também: “não poderia ter acontecido com uma melhor pessoa”.

Mais do que isso, defendo que não poderia ter acontecido num MOMENTO melhor. Nunca se falou tanto (e com absoluta razão) sobre os problemas da App Store. Além disso, fazia muito que uma aplicação independente não chegava nem perto das mesmas 10 ou 15 apps gigantescas que há anos dominam absolutamente o top da App Store.

O problema, claro, é que não demorou para os oportunistas tentarem aproveitar-se da situação. Dias depois do Widgetsmith chegar ao top da loja,
apareceu um clone (também chamado Widgetsmith) feito sob medida para enganar as pessoas.

E deu certo. Em questão de horas, o Widgetsmith “pirata” chegou ao top da App Store, ultrapassando o Widgetsmith “original”. Depois de uma certa movimentação da comunidade de desenvolvimento, a Apple removeu o Widgetsmith pirata da App Store (mas não a tempo de relembrar porque a loja ainda tem muito para evoluir).

Isso sem contar, claro, a quantidade de clones do Widgetsmith que tem vindo a surgir na Play Store para tentar se aproveitar da situação. Algo igualmente triste e esperado, infelizmente.

Ainda assim, o sucesso da aplicação serviu como um alento à enxurrada de más noticias e tropeços da Apple na relação com os desenvolvedores.

O facto de um desenvolvedor ter conseguido, sozinho, atingir o top da loja de aplicações mais concorrida do mundo (sem qualquer investimento em publicidade ou manobras desonestas) serviu não só como a prova de que o público ainda sabe recompensar trabalhos honestos e sinceros, mas também para devolver, ainda que somente por alguns dias, aquela sensação de otimismo que há muito tempo não se sentia quando o assunto é a App Store.

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Crónicas