Vivemos numa época em que a inteligência artificial (IA) começa a integrar-se muito rapidamente no nosso dia a dia. Em muitas situações diárias, certas funcionalidades de IA já estão ao alcance de muitos. A Google é uma das gigantes tecnológicas que, nos últimos tempos, tem como um dos principais destaques entregar funcionalidades de IA aos seus utilizadores.
Basta olhar para os seus últimos lançamentos, desde o lineup dos Pixel 10, Pixel 10 Pro e 10 Pro XL, o Pixel Watch 4, os Pixel Buds Pro 2 e os Pixel Buds 2a para perceber essa ideologia. Mas vou-me concentrar neste último, os Pixel Buds 2a. O que é que a Apple pode, e deve aprender com este produto que à primeira vista parece irrelevante ou insignificante no mercado de dispositivos de áudio? Recebi estes auriculares por parte da Google, (desde já agradeço) que me fizeram meditar em algo que a Apple ainda não entrega aos seus utilizadores. Mas já lá vou.

Antes de mais nada, convém conhecer qual o propósito deste produto Made by Google. A gigante das pesquisas lançou os novos Pixel Buds 2a, uns auriculares sem fios que apostam na simplicidade, conforto e integração inteligente. Sem pretensões de luxo, mas com um propósito bem claro, proporcionar uma experiência de áudio muito satisfatória a todos os utilizadores, e o mais importante de tudo, oferecer uma ponte entre o telemóvel e um assistente de IA nos ouvidos, com quem se pode conversar como se fosse um amigo ou um ajudante.
O meu foco principal ao dar a conhecer este novo produto da gigante americana aos utilizadores Apple é simples, o que é que a Apple pode aprender com esta filosofia de IA que a Google tem implementado nos seus produtos? Para quando uma Siri que converse comigo livremente como eu converso com o Gemini Live com os Pixel Buds 2a ou os Pixel Buds Pro 2, estes últimos com o Gemini integrado?

Pixel Buds 2a, os auriculares que colocam a IA para todos ouvirem
Nos últimos anos, a Apple tem sido consistente no design, integração entre o software/hardware e a experiência de utilizador. Porém, há um área em que a sua concorrência, neste caso a Google, está a ganhar terreno a passos largos, inteligência artificial e em como esta nova tecnologia está a mudar a forma como interagimos ou falamos com os nosso dispositivos eletrónicos.
Com a chegada do Gemini Live, a Google parece ter alcançado algo que a Apple há muito promete, mas que até agora ainda não conseguiu entregar com a Siri. O Gemini um assistente que realmente conversa, compreende e responde com naturalidade. A Google não quer apenas criar uma IA funcional, quer criar uma IA com empatia e toque humano.

O ponto de viragem dos Pixel Buds 2a é a ponte que criam com o Gemini Live, a IA avançada da Google. Mesmo não tendo o Gemini embutido nos próprios auriculares (funcionalidade restrita aos Pixel Buds Pro 2) basta um toque para se conversar de forma natural com o assistente, sem aquela sensação de estar a falar para as “paredes” ou a ouvir respostas automáticas, mecânicas, robotizadas e pouco flexíveis, como ainda acontece com a Siri, especialmente a Siri em pt-pt.
Seja para pedir informações sobre alguma coisa em específico, organizar as tarefas do dia, controlar dispositivos da casa inteligente ou resumir mensagens, o Gemini nos Pixel Buds 2a demonstra o potencial das conversas hands-free e contextuais, ao contrário da Siri, que embora também dependa do iPhone por perto, limita-se a respostas básicas, bem longe de entregar uma experiência de IA verdadeiramente útil e natural.

Siri: o desafio da naturalidade
Objetivamente falando, a Siri evoluiu muito pouco nesse sentido. Mesmo com a chegada da Apple Intelligence, o foco inicial parece estar em respostas mais úteis e integração com aplicações, mas a naturalidade e a orgânica das conversas ainda é uma meta distante.
A diferença está na filosofia que distingue as duas empresas. Enquanto a Google aposta numa interação viva, constante e fluida, a Apple continua a preferir respostas curadas, controladas e seguras. É uma escolha compreensível, a Apple privilegia privacidade e consistência, mas essa prudência está a atrasar o salto que o público deseja, assistentes que pensam e respondem como nós, ou seja, uma IA muito mais proativa e menos reativa, passiva ou apática.

Onde a Apple fica a dever aos seus consumidores
Aquilo que a gigante tecnológica americana precisa urgentemente é uma revolução no que diz respeito a sua assistente Siri. O ecossistema Apple em si, é famoso pela integração e qualidade. No entanto, até agora, não existe nenhuma solução da marca que permita interagir de forma semelhante com a Siri, que dá respostas robóticas e pouco espertas.
Embora os AirPods ofereçam uma experiência mãos livres, a realidade é que não é possível nenhum tipo de conversação natural e contínua. Aquilo que poderia ser hipoteticamente chamado de “Siri Live” simplesmente não existe.
A expectativa é que uma marca que tanto valoriza a experiência do utilizador possa eventualmente inspirar-se nesta abordagem da Google, trazer IA mais evoluída, diálogo contínuo e maior liberdade de interação ao mundo Apple. E melhor, a Google faz questão de que a sua filosofia, IA para todos, seja mesmo assim, com produtos acessíveis monetariamente.

Um novo conceito de auriculares inteligentes
Os Pixel Buds 2a e já agora, os Pixel Buds Pro 2, materializam aquilo que o futuro do áudio deve ser, combinar simplicidade, qualidade de construção e uma inteligência artificial realmente útil. O utilizador deixa de depender fisicamente e diretamente do smartphone ou comandos limitados e passa a contar com um assistente eficaz, que compreende contexto, antecipa cenários e interage de forma realista, tudo a um preço disruptivo.
Desse modo, a Google mostra que a verdadeira inovação não precisa de vir de produtos de luxo ou muito caros, mas de tecnologias que se entrelaçam com o quotidiano. O utilizador já não fala nem faz pedidos para um mero assistente digital, mas fala com alguém.

O desafio para a Apple
A Apple tem, mais do que nunca, a oportunidade de redefinir e de reinventar o papel da Siri. Com a chegada do Apple Intelligence, a empresa já começou a integrar modelos de linguagem avançados e a preparar terreno para uma Siri mais capaz e pessoal.
Mas o exemplo da Google mostra que o segredo está não só na inteligência artificial per si, mas na forma como essa inteligência é entregue com naturalidade, empatia e voz humana. O futuro não será de quem responder mais depressa, mas de quem conversar melhor.

Num mundo cada vez mais dominado pela IA, fica o desafio para a Apple, evoluir a Siri, libertar-se das amarras do hardware e permitir finalmente interações verdadeiramente naturais e autónomas para que os auriculares sejam mais do que simples auriculares e passem a ser autênticos companheiros virtuais do dia-a-dia.
Os Pixel Buds 2a são apenas a ponta do icebergue de uma visão mais ambiciosa por parte da gigante das pesquisas, um ecossistema onde o som e a voz é a interface da IA.

E é precisamente aí que a Apple pode e deve inspirar-se, numa inteligência que escuta, compreende e responde como um ser humano, e não como um algoritmo. A Siri vai inevitavelmente evoluir. A questão é se o fará com a mesma ousadia com que a Google está a reinventar a voz da tecnologia, começando com uns "simples" Pixel Buds 2a.