Pixel Watch 4: o relógio que coloca a IA no pulso. Então Apple Watch?

A Google com o Pixel Watch 4 quer transformar o smartwatch num verdadeiro assistente pessoal. Isso vai redefinir o papel dos wearables no futuro.

20 de Out de 2025
Pixel Watch 4: o relógio que coloca a IA no pulso. Então Apple Watch?
Google Pixel Watch 4 com o Gemini integrado.

O Apple Watch tem sido o padrão de referência no mundo dos smartwatches. Com uma integração quase perfeita no ecossistema da maçã e uma aposta consistente na saúde e bem-estar, o relógio inteligente da Apple tornou-se sinónimo de tecnologia wearable de excelência. Contudo, o lançamento do Pixel Watch 4, com o Gemini totalmente integrado, mostra que a Google está a redefinir o que um smartwatch pode ser e, mais importante, o que pode fazer com a inteligência artificial.

A chegada do Pixel Watch 4 trouxe ao mercado dos wearables uma mensagem clara, a próxima grande evolução dos relógios inteligentes não será definida apenas por sensores mais precisos ou ecrãs melhores, mas pelo poder da inteligência artificial integrada diretamente no pulso. Será compreender o utilizador, antecipar as suas necessidades e agir de acordo com elas.

Ao incluir o Gemini Live e uma panóplia de funcionalidades que tornam o smartwatch num verdadeiro assistente pessoal, a Google abriu um caminho que a Apple ainda não percorreu plenamente com o Apple Watch. E se o Apple Watch ainda continua a liderar em vendas e a dominar no seu ecossistema, as diferenças começam a ser evidentes quando analisamos o papel central que a IA pode ter no futuro da tecnologia wearable sobretudo na vertente de saúde e do bem-estar.

De extensão do smartphone a assistente pessoal

A Apple sempre se destacou pela sua capacidade de refinar ideias, não necessariamente de as criar. E embora nos últimos anos tanto a Apple como a Google tenham seguido uma fórmula semelhante para os seus smartwatches, integrar notificações, controlar música, registar passos, medir batimentos cardíacos e monitorizar o sono, o facto é que o Pixel Watch 4 rompe com essa narrativa ao apostar em algo mais ambicioso, um relógio que não recolhe só dados, mas que entende o utilizador, antecipa as suas necessidades e reage de forma proativa.

No ecossistema Apple, o Apple Watch ainda funciona basicamente como um ponto de acesso a funcionalidades do iPhone e como monitor de atividade física. A Siri, embora presente, raramente oferece interações verdadeiramente contextuais. Muitos utilizadores relatam que a assistente da Apple não interpreta dados para gerar soluções personalizadas, uma limitação que o Gemini começou a ultrapassar no Pixel Watch 4.

O grande passo da Google foi tornar a IA nativa no relógio. O Gemini Live permite que o utilizador fale naturalmente com o dispositivo, faça perguntas com contexto e receba respostas inteligentes. Esta abordagem transforma o wearable num assistente, algo que a Apple ainda precisa de concretizar.

IA aliada à saúde com o Pixel Watch 4

O Pixel Watch 4 consegue colocar a inteligência artificial no centro da monitorização de saúde. Não se limita a mostrar números, mas interpreta-os. Por exemplo, ao detectar padrões de sono irregulares, pode sugerir ajustes na rotina diária com base no histórico pessoal. Se identificar momentos críticos de stress, como por exemplo durante uma reunião ou trabalho intenso, recomenda exercícios de respiração no momento adequado.

O Apple Watch tem sensores avançados e funcionalidades como o ECG, alertas de ritmo cardíaco irregular e deteção de quedas. No entanto, a forma como interpreta e contextualiza in loco esses dados, continua relativamente básica. A aplicação Saúde da Apple organiza informações e sugere objetivos, mas não oferece ações proativas reais para alterar comportamentos no instante em que eles podem ser corrigidos.

Isso faz toda a diferença. A proatividade baseada na IA pode significar a prevenção de problemas antes de se tornarem mais sérios. Um Apple Watch com um nível de inteligência semelhante ao Gemini Live poderia oferecer intervenções imediatas e personalizadas, ajudando o utilizador não só a registar dados, mas a agir em conformidade.

A ideologia da Google com a IA

Uma das ideias mais interessantes do Pixel Watch 4 é o que a Google chama de “IA invisível”, tecnologia que acompanha o utilizador sem interromper ou exigir interações constantes. O relógio analisa os dados, faz recomendações ou ajusta as definições sem que o utilizador tenha de pedir manualmente.

O Apple Watch, mesmo com funcionalidades como detecção automática de treino, ainda exige muitas ações diretas do utilizador para tirar partido total do dispositivo. Nas tarefas de dia-a-dia, a Siri continua dependente de pedidos específicos e menos adaptada a atuar espontaneamente com base no contexto.

Para a Apple, abraçar o conceito de IA invisível poderia significar um salto qualitativo. Um exemplo simples, se o Apple Watch detetasse que o utilizador está a caminhar numa zona com subida acentuada e batimentos elevados, poderia sugerir automaticamente um modo de treino diferente ou um ajuste no ritmo. Em situações de saúde, poderia reconhecer sinais precoces de ansiedade e oferecer uma resposta imediata, antes que o utilizador sequer perceba a necessidade.

Integração da IA no ecossistema

A Google deu ao Pixel Watch 4 uma integração profunda com o seu ecossistema, Pixel 10, 10 Pro, Pixel Fold, Pixel Buds Pro 2, tornando o relógio parte de um fluxo contínuo de IA que se desloca entre dispositivos.

O Apple Watch beneficia do ecossistema Apple, mas aqui surge uma diferença, apesar de a integração ser excelente do ponto de vista técnico (handoff entre iPhone, iPad, Mac e AirPods), a experiência não tem uma integração completa entre diferentes dispositivos.

Um exemplo prático. Imagina que estás a pesquisar um hotel no iPhone, e a IA te sugira automaticamente o trajeto no Apple Watch e te ajude a reservar no iPad com o mesmo contexto e intenção? Isto é que é de interesse!

Com a chegada da Apple Intelligence, há potencial para mudar o cenário. Mas a Google já mostrou, com o Pixel Watch 4, que num wearable essa integração precisa de estar 100% presente, não apenas como ligação ao smartphone, mas como cérebro autónomo no próprio pulso.

Onde o Apple Watch falha

Apesar de ser um dos smartwatches mais completos do mercado em termos de sensores e integração, o Apple Watch tem três grandes limitações que se tornam evidentes ao compará-lo com o Pixel Watch 4.

  • Falta de contexto real: O Apple Watch recolhe dados com precisão, mas não os interpreta de forma inteligente. O utilizador recebe relatórios e alertas, mas tem de ser ele a analisar e agir. Falta-lhe a IA que dê sentido ao conjunto.
  • Siri limitada e pouco natural: A Siri continua presa a comandos e respostas pré-programadas. Não compreende intenções, não analisa contexto nem aprende com a rotina. É aqui que o Gemini brilha, com conversas naturais e personalizadas que se ajustam ao momento.
  • Integração de IA fragmentada: A Apple fala frequentemente de “IA no dispositivo”, mas, na prática, ainda depende de algoritmos discretos e funções isoladas (como detecção de quedas ou previsão de ciclo menstrual). Falta uma visão unificada, algo que a Google já começa a consolidar no ecossistema Pixel.

Se a Apple quiser manter a liderança, o próximo Apple Watch terá de evoluir para algo mais do que um excelente monitor de saúde. Terá de ser um assistente de saúde inteligente.

Benefícios e riscos da IA na saúde

A IA aplicada à saúde traz benefícios evidentes como prevenção, motivação e deteção precoce de problemas. No entanto, também implica desafios que tanto Apple como Google terão de gerir cuidadosamente:

  • Precisão nos dados: Qualquer análise ou recomendação baseada em IA depende da fidelidade dos sensores e da calibragem dos algoritmos.
  • Privacidade e segurança: Informações de saúde são extremamente sensíveis. A Apple já coloca grande ênfase na privacidade local, mas a Google afirma que o Gemini Live processa grande parte dos dados no dispositivo, reduzindo riscos.
  • Evitar diagnósticos errados: A IA deve focar-se em acompanhar e orientar, não substituir aconselhamento médico.

Se a Apple adotar uma abordagem de IA centrada na prevenção e assistência contextual, poderia transformar o Apple Watch no parceiro de saúde mais avançado do mercado, mantendo o equilíbrio com a filosofia de privacidade que lhe é característica.

Uma nova era começou: assistente de IA à distância do pulso

O Pixel Watch 4 marca um ponto de viragem ao demostrar que o futuro dos wearables está na inteligência integrada, contextual e invisível. A saúde e bem-estar são áreas onde essa abordagem pode ter mais impacto prático, transformando um dispositivo de pulso num verdadeiro aliado na vida diária.

Para a Apple, este lançamento da Google deve ser visto não como ameaça, mas como oportunidade. A liderança comercial do Apple Watch ainda continua sólida, mas a liderança tecnológica em IA para saúde ainda está por conquistar. Ao adotar funcionalidades proativas, linguagem natural e IA contextual autónoma, a Apple pode levar o seu relógio para a próxima era, cumprindo a promessa de ser não apenas o mais popular, mas também o mais inteligente e útil no cuidado com a vida e saúde dos seus utilizadores.

E não deixa de ser irónico que o impulso para essa transformação venha da Google. Porque, neste momento, o Pixel Watch 4 é o relógio que mais se aproxima do que a Apple sempre quis criar, tecnologia tão inteligente e humana que quase se esquece que é tecnologia.