Esta semana, o sempre bem-informado Mark Gurman da Bloomberg reportou que a Apple está a trabalhar numa versão mais resistente do Apple Watch, por agora chamada de Explorer Edition.
De acordo com Gurman, o relógio terá um revestimento de borracha protegendo toda a carcaça, deixando apenas o ecrã exposto. Sendo assim, o relógio teria mais ou menos o aspecto da tradicional (e extremamente bem-sucedida) linha G-Shock da Casio, mantendo também o apelo para desportistas que praticam alpinismo, por exemplo.
Se num primeiro momento este mercado pode parecer pequeno, permitam-me defender que este possivelmente será um dos passos mais importantes para a evolução do Apple Watch. E para defender este ponto, acho apropriado (e um pouco irónico) voltarmos ao começo do Apple Watch, quando ele ainda trazia o nome Sport para o modelo de alumínio e ecrã de vidro, tornando-o curiosamente menos resistente do que o modelo de aço inoxidável e ecrã de safira.
Na época, a linha era dividida entre o modelo Sport, o modelo “normal” sem sufixo, e o modelo Edition, de ouro, e que até hoje só me parece ter existido porque a Apple estava a fazer de tudo para manter o interesse de Jony Ive pelo futuro da empresa. O sufixo Sport para o modelo mais barato e mais frágil do Apple Watch durou até ao Series 2. Já as pulseiras Sport, essas sim permanecem até hoje. A diferença entre essas duas coisas? No caso do relógio, o nome Sport indicava algo mas frágil. Já no caso da pulseira, a Sport é mais resistente. Eu não sou um grande desportista, mas confesso que nunca me fez muito sentido o modelo Sport ser o menos resistente da linha, tendo inclusive ficado com o estigma de que era algo mais barato e, por consequência, mais frágil.
É claro que em meio a esta dissonância entre os modelos de cada linha, não demorou para o Apple Watch se tornar não só o smartwatch mais vendido do mundo, mas sim o relógio mais vendido do mundo mesmo entre os relógios tradicionais. A meu ver, o sucesso do Apple Watch supera até mesmo o sucesso do iPhone, e faz-me pensar no sucesso do iPod. Ele virou símbolo de sua categoria, e marcou uma era muito específica na história da Apple. Enquanto o iPod serviu para sinalizar ao mundo que a Apple podia, sim, fazer produtos acessíveis a todos (e não só a nerds criativos modernosos como era o apelo do Mac), o Apple Watch serviu para sinalizar o mundo que a Apple pós-Jobs podia sim continuar a tirar bons coelhos da cartola.
Voltando ao presente, quem acompanha os resultados financeiros da Apple já está acostumado a ouvir o Tim Cook ou o Luca Maestri a dizer a mesma coisa. Algo como: este foi o melhor trimestre de vendas do Apple Watch desde o lançamento, e mais de 50% das vendas foram para utilizadores que compraram o seu primeiro Apple Watch. Isso significa duas coisas:
- O Apple Watch continua a conquistar novos clientes (possivelmente por conta da evolução dos recursos de saúde), mas…
- …a cada novo trimestre, a Apple fica um pouquinho mais perto de ter que anunciar a primeira redução nas vendas do Apple Watch na comparação com os resultados passados.
O que nos traz de volta ao meu ponto inicial: este tal Apple Watch Explorer Edition possivelmente será um dos passos mais importantes para a evolução do Apple Watch, porque será quando o Apple Watch deixará de se apenas UMA coisa e passará (ou voltará) a ser uma linha de produtos com diferenciações claras, propósitos claros e, principalmente, ajudando o produto como um todo a evoluir mais rapidamente. Acredito que ao procurar o público que provavelmente há anos diz à Apple que não usa o Apple Watch porque ele é muito frágil para desportos que não sejam natação, corrida, bicicleta ou yoga, a Apple poderá aprender muito com este público sobre durabilidade, funcionalidades e recursos que hoje o grande público não tem condição de informar a empresa.
É um pouco como a linha de iPhones. Do modelo original até o 5, o iPhone era apenas “o iPhone”. Um modelo, pegue ou largue. A partir do 5s, a Apple resolveu expandir um pouquinho a linha. Havia o 5s, e o 5c. Anos mais tarde, veio o SE. Aí vieram os modelos Plus. Depois o Pro. Depois o Pro Max. Em meio a tudo isso, vieram as cores. O que começou com um modelo, num só tamanho, numa só cor, hoje tem diferentes apelos para diferentes públicos com diferentes estilos de vida, mas a experiência de usar um iPhone ainda é (relativamente) consistente entre todos eles.
E acredito que assim será com o Apple Watch. Desconfio, inclusive, que a Apple poderia até ressuscitar a marca Sport para este novo modelo, mas dessa vez com toda a bagagem e a aprendizagem dos erros que fizeram o relógio tropeçar rumo ao sucesso.
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