Eu tenho poucos desejos na vida. Mas um deles, é que torço para envelhecer tão bem quanto os Macs. Não pela aparência, é claro, porque já falei no passado sobre como o design da geração atual de Macs é pouquíssimo inspirador. Espero não ficar tão feio assim quando envelhecer, mas espero ter o mesmo fôlego e disposição.
Brincadeiras à parte, digo tudo isto porque de entre todos os resultados financeiros que a Apple apresentou esta semana, o que mais me chamou à atenção foi o facto da divisão de Macs ter reportado o seu segundo melhor faturamento até hoje, atrás apenas do faturamento do trimestre passado. É quase inacreditável (e mercadologicamente quase não faz sentido) que um produto com cerca de 40 anos de idade ainda tenha espaço para, em 2022, ter o seu melhor faturamento até hoje.
O motivo disso não é nenhum mistério, é claro. Desde 2020, quando a Apple apresentou o primeiro Mac com processador M1, estamos a viver um novo capítulo na história não só da linha de computadores da Apple, mas da computação pessoal em geral. E depois de tantos anos sem grandes atualizações, que levaram muitos críticos (e amantes!) da Apple a crer que o Mac não era mais de grande interesse da empresa frente ao sucesso dos iPhones e (em menor grau, claro) dos iPads, é muito bom não apenas poder olhar para este momento do Mac, mas vivê-lo.
Isto claro não significa que eu espero que os iPhones e iPads passem a receber menos atenção da Apple. O iPhone ainda é, de acordo com ela própria, responsável por 52% de todo o seu faturamento. Já os iPads, faturaram -2% em comparação com este mesmo período do ano passado, o que indica que a Apple precisará investir mais no produto para reacender o interesse do público. Mas é justamente por isso que este renascimento do Mac é tão surpreendente e satisfatório. Por muitos anos, foi uma espécie de consenso dos analistas, críticos e entusiastas da Apple que o único caminho possível para o Mac seguir (ou voltar a ser) relevante, era evoluir para algo mais próximo do iPad. E que bom que todos estavam errados.
O que faltava ao Mac era, de certa forma, ser ainda mais Mac. Era apoiar-se nas suas maiores vantagens, e não emular as principais vantagens do iPad apenas porque este vinha a chamar mais à atenção do público. E que bom que a Apple não caiu na armadilha de ceder a esta pressão. Ao decidir abandonar a Intel e assumir ainda mais o controlo de todos os aspectos do desenvolvimento de novos Macs, a Apple acertou em cheio na estratégia que, ironicamente, foi a que fez o iPhone e o iPad se tornarem o sucesso que são hoje em dia.
Desconfio que a saída de Jony Ive também tenha contribuído para o renascimento do Mac, mas este assunto fica para outro momento. O que importa é que, se até há pouquíssimo tempo atrás, os amantes do Mac estavam com a impressão de que teriam que se acostumar a viver presos no passado com os seus computadores ou passar a trabalhar no iPad a contragosto, agora essa geração pode trabalhar tranquila, utilizando os melhores Macs que já existiram, e que ainda por cima parecem ser só o começo de uma nova evolução na computação pessoal. Exatamente como foi em 1984, quando o primeiro Mac foi apresentado.
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