Um ligeiro contexto
Cá estamos, prestes a entrar num novo ano. É cada vez maior o esforço que todos fazemos para conseguir celebrar seja o que for, considerando o ambiente cada vez mais ameaçador que nos rodeia.
Pois, senão vejamos. A invasão da Ucrânia pela Rússia (24 de fevereiro de 2022) continua em pleno. Uma situação chocante a que o mundo já se habituou, e para a qual toda a ajuda é fundamental para a defesa da integridade de uma nação. Porém, fruto da turbulência política interna americana, garantir apoio militar e financeiro está a revelar-se cada vez mais complicado.
Como se não bastasse, no passado dia 7 de outubro, o Hamas (Movimento de Resistência Islâmica) atacou barbaramente Israel, que retaliou com semelhante barbárie, desencadeando-se assim uma nova incursão do conflito Gaza-Israel.
Mas a loucura e violência não ficam por aqui: no dia 3 de dezembro, a Venezuela lançou um referendo no sentido de avaliar o apoio à invasão de 70% do território da sua vizinha Guiana, "fortemente" apoiado pela sua população.
Claro que tudo isto (e muitas coisas mais) impactaram fortemente o sistema económico global. A inflação tem sido o que se vê. O Banco Central Europeu só recentemente parou de fazer subir as taxas de juro, mantendo a corda ao pescoço de milhões de pessoas que tentam desesperadamente pagar as suas casas, por exemplo.
Ainda assim, e face a um período de pós-confinamento pleno, o consumo aumentou, naturalmente, o que levou a que muitas empresas aproveitassem para fazer "correções" aos preços que praticam, alegando a necessidade de fazer face à inflação. Nuns casos, perfeitamente compreensível, noutros, nem tanto.
Não tendo sido, evidentemente, exceção, a Apple, que no ano passado passou a cobrar mais €220 pelo modelo base do iPhone Pro Max, deixou-se ficar, mantendo-o na 15.ª geração do seu smartphone. €1.499,00 passou a ser o novo preço fixo para a aquisição deste espantoso aparelho, sendo este o contexto para muitos outros produtos vendidos pela empresa da maçã. Continuo a achar uma subida brutalmente exagerada.
Mais uma vez, e tal como no ano passado, os erros e os acertos não se podem resumir aos produtos que foram (ou não) lançados em 2023. Há que ter sempre em conta a estratégia da empresa que, muito embora não a conheçamos, tem claramente um impacto junto dos consumidores e aficionados.
Há quem, como que pertencendo a um culto, defenda toda e cada medida levada a cabo pela Apple. Outros, como que sócios de clubes rivais, são apenas capazes de projetar fel na direção da empresa.
No iFeed, esforçamo-nos por vos apresentar uma leitura crítica, mas equilibrada, sobre os produtos que tanto adoramos. Contudo, porque estamos tão habituados a ter acesso a qualidade que ultrapassa largamente a média, quando a Apple fica aquém do que é esperado é natural que estejamos atentos.
Num mundo em decadência em tantas frentes, só gostaríamos que algumas dessas frentes não seguissem essa trajetória, por isso escrevemos e partilhamos convosco as nossas opiniões, desilusões e esperanças sobre a nossa estimada empresa da maçã dentada.
Produtos lançados pela Apple em 2023
Produto | Data |
---|---|
MacBook Pro M2 | 24-01-2023 |
HomePod (segunda geração) | 03-02-2023 |
iPhone 14 (cor amarela) | 14-03-2023 |
MacBook Air M2 (15 polegadas) | 13-06-2023 |
Mac Studio M2 | 13-06-2023 |
Mac Pro M2 | 13-06-2023 |
iPhone 15 (Base, Pro e Pro Max) | 22-09-2023 |
Apple Watch Series 9 | 22-09-2023 |
Apple Watch Ultra 2 | 22-09-2023 |
Apple Pencil USB-C | 01-11-2023 |
MacBook Pro M3 | 07-11-2023 |
iMac M3 | 07-11-2023 |
De lembrar também que, embora ainda não disponível no mercado, no dia 5 de junho de 2023, a Apple anunciou finalmente o Apple Vision Pro.
3 erros da Apple em 2023
MacBook Pro M2 e M3 no mesmo ano
Tendo suprimido de vez o MacBook Pro de 13 polegadas com a sua Touch Bar, esta gama é atualmente constituída por laptops de 14 e de 16 polegadas. Mais homogéneo, o segmento acabou por reequilibrar-se, apresentando várias configurações para quem precisa de um portátil para trabalhos mais exigentes.
Segundo Mark Gurman da Bloomberg, a "Apple não teve outra escolha senão lançar três novos processadores ao mesmo tempo. A empresa sempre teve como objetivo colocar o chip M3 normal num iMac de 24 polegadas atualizado, e precisava dos processadores M3 Pro e M3 Max, mais potentes, para os MacBook Pro topo de gama. Por isso, não podia utilizar a abordagem mais escalonada da geração M2".
Gurman destacou ainda que "uma das forças motrizes por detrás da decisão de se concentrar na gama MacBook Pro em vez do MacBook Air foi a quantidade de inventário de silício de 3nm. A gama M3 utiliza silício de 3 nm, mas o mesmo acontece com o A17 Pro, que equipa os iPhone 15 Pro e 15 Pro Max. Com o iPhone a representar a maioria das vendas, o lançamento do M3 em produtos com menor volume de vendas significa que o fornecimento do iPhone não é afetado de forma significativa."
Há, por outro lado, quem afirme que a Apple não queria ficar atrás do lançamento do Snapdragon X Elite, tendo antecipado o lançamento do M3 em todas as suas variantes, em simultâneo.
Aplica-se, portanto, a mesma ideia que apresentei no ano passado: "nem sequer dá tempo para sentir a obsolescência dos seus produtos (...). Pois, se ainda temos produtos perfeitamente operacionais, e que duram anos (assim nos acostumou a Apple), assistir ao lançamento de dispositivos com o mesmo e exato design, mas mais rápidos e com maior duração da bateria (e agora com preços brutalmente inflacionados), torna-se, em absoluto, frustrante para o consumidor."
Certo que, como disse acima, o MacBook de 13 polegadas desapareceu. Mas tirando isso, imagino que, para quem investiu tanto dinheiro num MacBook Pro em janeiro, a sensação de ver que a mesma carroçaria está, poucos meses depois, equipada com um hardware mais poderoso (ah, sim, e agora com uma nova cor para distinguir quem comprou os modelos de topo), não será certamente a mais agradável.
Felizes estarão com toda a certeza os que ainda têm um MacBook Pro com processador Intel, que decidiram não fazer o upgrade no início do ano.
Luta de patentes
Então não é que a Apple infringiu propriedade intelectual de uma patente detida pela Masimo Corp? Parece que sim. Numa batalha legal em torno de uma alegada apropriação da tecnologia de monitorização do oxigénio no sangue nos Apple Watch, pelo menos nos Estados Unidos, a frase "atualmente não disponível" surge logo abaixo do preço dos Apple Watch 9 e dos Apple Watch Ultra 2.
No ponto 24 das notas de rodapé, a Apple tem escrito: "a partir de 24 de dezembro de 2023, a Apple deixa de vender nos Estados Unidos unidades do Apple Watch com a capacidade de medir o oxigénio no sangue".
Assim foi a deliberação da United States International Trade Commission. Até quando, veremos. À partida, tudo se manterá normal na Europa e Ásia, mas pelos Estados Unidos, quem quiser um Apple Watch terá que se contentar com o Series 8, Ultra 1 ou SE.
É claro que o CEO da Masino, Joe Kiani está disposto a negociar, caso contrário, pelo menos com esta tecnologia, a Apple não poderá voltar a equipar os seus smarwatches com sistema de monitorização de oxigénio no sangue.
Se a negociação resultar, nem imagino os milhões que entrarão na Masimo. Ou então, por outros tantos milhões, na volta, a Apple ainda desenvolverá uma tecnologia própria, capaz de superar a que está a utilizar.
Veremos no que resulta tudo isto. Mas, que a Apple poderia ter mais cuidado, "alegadamente", lá isso podia. Lá está: não sabemos qual foi a estratégia, nem mesmo se infringiu de facto a patente. Mas o facto concreto é que a Apple tem aquelas mensagens publicadas no seu website, algo totalmente desnecessário para uma empresa com uma excelente reputação.
Muita pressa para mudar cria problemas
O lançamento do iPhone 15 e suas variantes trouxe, entre outras, as novidades de uma armação em titânio e o novo Action Button para as versões Pro e Pro Max.
Mas não foi só isso. Pouco tempo depois do lançamento da nova geração Pro do iPhone, foram identificados cinco problemas:
- Sobreaquecimento do dispositivo;
- Durabilidade da armação de titânio;
- Efeito burn-in no ecrã;
- Duração precária da bateria;
- Ecrã negro na ativação da app Câmara.
Por via de várias atualizações do iOS 17, a Apple foi conseguindo resolver algumas destas questões. Mas o ponto aqui em análise é o facto de estarmos perante o produto que assegura o maior volume de vendas, o qual, pelo preço a que é comercializado, nunca deveria apresentar tantos problemas em tão pouco tempo após a sua disponibilização no mercado.
Sei bem que é muito complicado superar o melhor dos melhores todos os anos. Mas tantas e tantas vezes, menos é mais. Sim, com efeito, desde o iPhone 12 que é tudo sempre igual. Mas agora que lhe tomaram o gosto, novos rumores apontam para um eventual segundo Capture Button no iPhone 16.
Façam o que fizerem, verídicos ou não os problemas apontados, a Apple terá que ter mais cuidado no lançamento dos seus produtos. Estamos habituados a deter dispositivos que funcionam à velocidade da luz, sem problemas de software, com designs lindíssimos e, sobretudo, duráveis e fiáveis. Não vamos querer que a Apple seja comparável com a concorrência, pois não?
Ainda assim, o iPhone 15 é considerado por muitos como a melhor versão de sempre. Pois, evidentemente que nem de outro modo poderia ser. Mas se não houvesse tantos problemas pelo meio, como antigamente, seria bem mais agradável.
3 acertos da Apple em 2023
MacBook Air de 15 polegadas
Embora ainda equipado com o processador M2, o novo MacBook Air com 15 polegadas trouxe o que fazia falta: um laptop levíssimo e potente, preparado para todos os cenários, mas com um ecrã maior.
Agora que o MacBook Pro de 13 polegadas desapareceu, o MacBook Air joga num campeonato próprio com os dois tamanhos exclusivos. Com o lançamento prematuro dos processadores M3, pelo menos agora no Natal, quem quiser comprar um laptop já sabe: ou um excelente MacBook Air com o processador M2, ou um todo-poderoso MacBook Pro com o processador M3.
Claro que isto vai mudar eventualmente no ano que vem, quando o M3 chegar ao MacBook Air. Ainda assim, pelo menos em teoria, cada macaco no seu galho.
Estranhamente, o MacBook Air de 13 polegadas com o processador M1 ainda está à venda no website da Apple (desde €1.229,00). Comparando os valores do segmento base, um MacBook Air de 15 polegadas custa €1.649,00, e um MacBook Pro de 14 polegadas sai por mais €400.
A diferença não é muita. Claro que podes sempre comprar um MacBook Air de 13 polegadas com processador M2 por €1.349,00, aí sim, compensando a diferença para um MacBook Pro de 14 polegadas.
Mas importante aqui é que há a possibilidade de existir um laptop muito apreciado pelos consumidores, dotado de um ecrã maior, sem por isso sacrificar a leveza e a potência que tão bem caracterizam esta gama.
iMac com processador M3
Nada mudou no iMac exceto as suas entranhas. Mas lá está: como disse acima, menos é mais. Com efeito, os iMac ganharam vida nova com o refrescamento do design, tendo tornado a dar uma lufada de ar fresco às nossas secretárias com as suas cores incríveis.
Com o todo poderoso processador M3, e num timing adequado, ou seja, passados dois anos, mesmo sem um M2 pelo meio, foi muito oportuno o lançamento de uma máquina mais potente, preparada para todos os desafios, quer de trabalho, quer de entretenimento.
Este all-in-one dá a garantia de uma extrema qualidade, durante muito tempo. No meu já "velhinho" Intel, tudo continua ótimo, rápido, e ainda compatível com o macOS Sonoma. Para quê estar constantemente no frenesim dos novos processadores, fomentando a constante tensão de comprar mais e mais. Claro que sabemos para quê - lucro, lucro, lucro. Mas nem eu me excluo da vontade de ter um computador mais bonito, potente e colorido na minha secretária.
Seja qual tenha sido o motivo para não ter sido lançado um iMac com processador M2, a espera também mantém o consumidor ansioso pela nova versão. Não é preciso andar sempre a velocidades estonteantes na colocação de novos produtos que, na perceção de muitos, torna os seus dispositivos (que tanto custaram a comprar) obsoletos.
Regresso da HomePod
Muito, mas muito bem-vinda! A segunda geração da HomePod veio demonstrar que a Apple continua a pensar na casa. Pessoalmente, já não viveria bem sem as minhas HomePod mini espalhadas pelas divisões.
Mas faltavam as irmãs mais musculadas. Aquelas que dão um verdadeiro boost às nossas televisões. Sou um profundo defensor do Ecossistema Apple, porque funciona incrivelmente bem.
Usufruindo de todas funcionalidades que os vários sistemas operativos atualmente instalados nos mais recentes dispositivos Apple permitem, a HomePod de segunda geração só veio incrementar a qualidade a que todos estamos habituados neste ainda pouco desenvolvido segmento de gadgets produzidos pela Apple para as nossas casas.
É claro que, em Portugal, se quiseres comprar uma, não será certamente através da Apple. O que vale é que há muitas formas alternativas de a encomendar.
Mais um ano que passou a correr
Guerras e mais guerras. Governo que caiu. Eleições antecipadas e todos a gritar, jorrando fel, amplificado pelos media e redes sociais. Pouco ou muito refletidas, há opiniões de todos, sobre tudo, sempre fortes e agressivas.
A calma talvez seja uma condição vetada ao esquecimento. Mas é a essa calma que devemos aspirar. Há que tentar respirar por entre esta amálgama de contextos ensurdecedores que entorpecem a mente.
No que concerne ao consumo, cada um, na medida das suas possibilidades, escolhe o que mais gosta, com base nas suas necessidades. Para mim, a Apple consegue garantir-me condições para tentar encontrar calma.
Não é, evidentemente, a solução de todos os problemas. Mas pelo menos, quando estou a ouvir música em casa ou na rua, a trabalhar na secretária ou com o laptop, a ter um Apple Watch que me desafia a mexer, a manter-me discretamente a par das mensagens quando não posso olhar para o iPhone, bem como a poder eventualmente salvar-me a vida com os seus sensores... tudo isto transmite-me uma sensação de segurança que não encontro na concorrência.
Mas verdade seja dita que a Apple está a complicar bastante com lançamentos atabalhoados, "casos e casinhos" desnecessários e problemas de funcionamento totalmente evitáveis.
Ainda assim, que se apresente uma solução melhor. Não. Não é como nas eleições quando se fala no voto útil. No caso da Apple, a opção (neste que é um artigo de opinião - a minha opinião), é clara: não há melhor.
Agora, tal não significa que, enquanto consumidor (e aficionado não fanático), desconhecedor da estratégia da administração da Apple, não me sinta incomodado com o que tenho vindo a assistir. Talvez esteja na hora de Tim Cook passar a pasta, tal como está previsto. Um refrescamento, desde que para melhor.
O seu contributo é inegável e, tal como Steve Jobs, também ele deixará um brutal legado, quer na Apple, quer no mundo, por via dos espantosos produtos capazes de mudar a vida para melhor ao longo de todos estes anos, e sem os quais já não nos imaginaríamos.
Em 2023 estamos, portanto, perante uma Apple que (entre muitas outras coisas):
- Completou o círculo com os seus extremamente bem sucedidos processadores de fabrico próprio;
- Está praticamente convertida a um formato universal de carregamento (USB-C) nos seus dispositivos;
- Tem uma linha mais lógica de gamas no que respeita aos seus dispositivos;
- Apresenta um ecossistema imbatível, totalmente funcional e dotado de inegável utilidade.
Ainda há muito a fazer. Estão a estranhar que nada tenha sido feito com os iPads? É preciso calma. Sobretudo calma. Para lidar com a Apple, mas principalmente para lidar com o mundo que nos rodeia. Aceitar as falhas. Celebrar os objetivos cumpridos. Aproveitar a vida com tolerância e equilíbrio.
Só aprendemos com os erros que cometemos, e espero que a Apple nos continue a brindar com a inovação e qualidade inconfundíveis, resultantes de muito trabalho e esforço de todos os seus colaboradores, que, tal como nós, aprendem com seus erros e desenvolvem os seus acertos.
Esperando que tenham passado um ótimo Natal, desejo a todos os nossos leitores um maravilhoso ano de 2024!
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