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A Apple TV segue perfeita: perfeita para ninguém
Marcus Mendes

A Apple TV segue perfeita: perfeita para ninguém

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No início da semana, surgiram rumores de que a Apple aproveitaria a terça-feira para anunciar algum produto. De entre as possibilidades, estavam as famosas e misteriosas AirTags, os fones até então chamados de AirPods Studio no mundo dos rumores, e uma versão atualizada da Apple TV.

Como sabemos, a Apple lançou os tais AirPods Studio, que agora sabemos que na realidade se chamam AirPods Max (nome bem pior, na minha humilde opinião).

Confesso que depois do anúncio de terça-feira, tinha uma certa esperança de que a Apple fosse lançar um produto por dia, assim com ela já fez no passado. Imaginava que veríamos sim o anúncio das AirTags e da nova Apple TV nos dias seguintes, o que obviamente não aconteceu.

A possibilidade do lançamento de uma nova Apple TV fez-me pensar: do ponto de vista da tecnologia do hardware, o que está a FALTAR no produto? Já temos 4K, já temos HDR, penso que já haja suporte a Dolby Atmos e outras formas modernas de imersão sonora… isso sem contar o facto de que a Apple TV atual é equipada com um processador A10X Fusion, que é o mesmo processador do iPad Pro de 10,5” e da segunda geração do iPad Pro de 12,9”. Ou seja, um pequeno monstro para o que se propõe.

E é aí que está a chave da questão: a que se propõe. Há anos, a Apple tem vindo a promover a Apple TV como um acessório de entretenimento que dá acesso a jogos, aplicações educativas, passatempos e… ah, sim! Streaming.

Mas não é assim que o público vê a Apple TV. Apesar das repetidas tentativas da Apple em promovê-la como uma concorrente da Nintendo Switch, geração após geração o público mostra para a Apple que, na realidade, a Apple TV é o Netflix player mais caro do mundo.

Ocorre-me agora que essa não é a primeira vez que a Apple usa jogos como uma espécie de desculpa conceitual para justificar a existência de um produto. Foi assim por anos com o iPod Touch. Na realidade, ainda é. Na página promocional do iPod Touch que está no ar neste minuto, a Apple trata de música por aproximadamente 10% do material, e de resto mostra jogos e realidade aumentada como grandes diferenciais que podem tirar o máximo proveito do chip A10 Fusion. Eu não sei o que pensas disto, mas quando penso num produto para jogos casuais eu não penso no iPod Touch. Na realidade, não pensava no iPod Touch há meses. Talvez há mais de um ano.

De volta à Apple TV, eu esperava sim o anúncio de um novo modelo ao longo da semana. Mas não o modelo que vem a aparecer no mundo dos rumores, com processador A14 e até 128GB de memória. Eu esperava uma Apple TV mini: o equivalente ao HomePod mini, mas para a Apple TV. Um produto mais barato, tecnicamente mais limitado, mas perfeito para a esmagadora maioria do mercado consumidor que, vale lembrar, está a anos-luz de distância da nossa empolgação, conhecimento e interesse pelo cutting edge da tecnologia.

Sendo muito sincero, se eu tivesse apostado, eu teria perdido dinheiro com o facto da Apple ter lançado um HomePod mini antes de uma Apple TV mini. Um concorrente um pouco mais direto do Chromecast, Fire TV Stick, Roku e tantos outros seria o lançamento perfeito para esta época do ano, especialmente agora que a Apple precisa de começar a conquistar ou reconquistar mais assinantes do Apple TV+ antes do final da primeira leva de assinaturas anuais gratuitas.

Olhando para os Top 50 apps mais descarregados da Apple TV na App Store brasileira, é quase impossível encontrar jogos. Dezenas de players de vídeo, alguns que sinceramente nunca ouvi falar, dominam o ranking que mostra sem sombra de dúvida e de forma definitiva para que as pessoas estão realmente a usar as suas Apple TVs.

Por isso, sempre me pareceu fazer muito mais sentido a Apple lançar uma Apple TV mini por US$ 99 (pelo mesmo preço do HomePod mini), e que desse acesso somente a apps de streaming de áudio e de vídeo, do que seguir insistindo num produto poderosíssimo, cheio de recursos que ninguém vai usar, mirando um mercado que não existe, e que custa mais do que as pessoas querem pagar.

É bem verdade que especialmente quando o assunto é preço, via de regra as coisas da Apple custam mais do que as pessoas querem pagar. Mas diferentemente da Apple TV, nos outros casos, as pessoas pagam.

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