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Cmd+T (crónica): Vamos todos ter um pouco de calma
Gonçalo Ribeiro

Cmd+T (crónica): Vamos todos ter um pouco de calma

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Há uma semana que a Apple pôs nas mãos dos americanos a sua aposta em computação espacial, o Apple Vision Pro chegou aos Estados Unidos e apesar de algumas reviews menos positivas e a sombra que por $3500 estamos a comprar um teste de qualidade em grande escala, nada disso impediu o sucesso nas redes sociais de mostrar o que poderá ser um futuro distópico próximo. Conduzir com o Apple Vision Pro? Feito. Andar pelas ruas de Nova Iorque com o Apple Vision Pro? Claro. Muitos tem sido os exemplos (maus, na minha opinião) de como podemos usar esta nova aposta da gigante tecnológica, mas pergunto-me: será este o nosso futuro ou há muita gente que tem de se acalmar nos conteúdos “view-bait”?

O mundo já viveu as maravilhas e desmaravilhas do novo gadget da Apple, que tendo em conta ser um produto de primeira geração e com um preço não acessível a todas carteiras, tem sido um sucesso pelos 50 estados na grandiosa América do Norte. O maior sucesso tem sido, como seria de esperar, junto do grupo de youtubers, influencers ou simplesmente os “eu tenho um TikTok por isso sou alguém”, mas como seria igualmente de esperar os conteúdos que estão a ter mais sucesso não são os guias de como ficarmos imersos numa linda paisagem da lua ou posicionar a nossa séria favorita no teto e vê-la num ecrã (virtual) de 70 polegadas, os conteúdos mais bem sucedidos tem sido aqueles que posso descrever como “por favor, para, isso é estúpido”.

Seria de esperar, mas lá está o senso comum é muito abstrato, que usar um computador nos olhos que está a reproduzir a realidade à nossa volta através de câmaras e ecrãs não é a melhor situação enquanto estamos a conduzir. Assustadoramente tem sido inúmeros os vídeos de pessoas, lá está “criadores de conteúdos”, a conduzirem os seus carros (maioritariamente são Cybertrucks para o flex total, claro) com o Apple Vision Pro posto, que vamos ser sinceros, para além de ser extremamente ilegal, mesmo nos EUA, põe em risco toda a gente na estrada à sua volta e é em primeiro e último lugar muito estúpido. O mesmo se pode aplicar a utilizar o mesmo no meio do metro de Nova Iorque ou simplesmente no meio da rua. Eu sei que não se chama Apple Vision Home, mas seria de esperar não só por todo o material de comunicação ser dentro de casa e o simples facto de que nem sequer há suporte a comunicações cellular, é bastante óbvio que andar no meio da rua com $3500 na cara completamente isolado do mundo à nossa volta não é de todo a utilização ideal.

E aqui podíamos começar a discussão de as pessoas usam como querem e se usam mal é porque o produto não tem um objetivo claro. Certo e certo e concordo a 100%. O Apple Vision Pro é um conjunto confuso de casos de uso. Se fores ler a minha última crónica, sim, concordo. Contudo, muitas destas pessoas estão só a ridicularizar o produto e a si próprias para simplesmente ganharem umas visualizações.

E na óptica de ganhar visualizações. Por favor, não vamos gastar milhares de dólares e andar a atirar o Apple Vision Pro como se fosse uma bola de basebol de uma altura de 2 metros e pouco diretamente para o chão. Eu já há algum tempo que sou contra o conceito de “drop tests” (testes de queda) e uma coisa é aritmética simples. Vidro a alta velocidade contra o chão parte. Fim da história. Não há grande descoberta neste assunto.

Com isto tudo não quero parecer invejoso ou velho do Restelo, mas cada vez mais agimos sem pensar e fazemos de tudo só para chamar à atenção. Se vamos andar todos com o Apple Vision Pro no meio da rua ou num jantar de sexta à noite? Não vamos. Até porque sabemos que neste caso esta é a primeira etapa ou um teste à escala americana e futuramente, esperemos, mundial. Até lá, por favor não andem por aí a conduzir com o Excel a flutuar à vossa frente nem a atirar tecnologia contra o chão porque “Ah! Partiu!". Já dizia uma grande sábia: “Florals? For Spring? Groundbreaking.”.

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Crónicas