iPhone 12 mini - Um fracasso bem-sucedido
Marcus Mendes

iPhone 12 mini - Um fracasso bem-sucedido

PUB

Já deves ter lido internet afora nos últimos dias que o iPhone 12 mini não vai bem das pernas. Relatório após relatório, o consenso (especialmente da imprensa) parece ser o de que o telefone é um fracasso de vendas, com direito até a rumores de que a produção pode ser encerrada antes mesmo do anúncio da próxima geração de iPhones.

É claro que isso tudo pode muito bem ser verdade, mas todos os relatórios parecem estar a pecar no mesmo ponto: a hipótese do iPhone 12 mini estar a vender pouco não significa, necessariamente, que ele está a vender abaixo do esperado.

Explico: é bem verdade que o iPhone 12 mini não parece estar a ser o sucesso estrondoso de vendas que muita gente esperava. O sucesso surpreendente do iPhone SE e, novamente, da segunda geração do telefone diminuto levaram à expectativa de que o iPhone 12 mini causaria a mesma reação.

E aí é que está a chave. Esta palavra. Expectativa. Ela raramente ajuda qualquer tipo de análise.

Todos os anos surgem notícias de que a Apple está a reajustar a linha de produção, cortando milhões de encomendas do modelo Y de iPhone e aumentando milhões de encomendas do modelo Z. Esta correção de curso é esperada e, sinceramente, surpreendente seria se qualquer empresa conseguisse estimar com absoluta precisão algo desse tipo. Mas este ano a história está um pouco diferente.

A história é a de que o modelo mini está miseravelmente fracassando, quando me parece que ele está apenas a vender menos do que os modelos maiores. E não há nenhuma surpresa aqui. É claro que ele venderia menos do que os modelos maiores! A Apple passou boa parte dos últimos anos a acostumar o público com a dinâmica de que iPhones grandes são novos, e iPhones pequenos fazem parte de uma espécie de segunda divisão, voltada para quem não tem necessidade de atualizar-se assim que a grande novidade aparece. O iPhone SE serviu como uma alternativa a quem não gostava do design da então atual geração de iPhones, e também para quem ainda rejeitava a ideia de ter um telefone grande.

Com o segundo iPhone SE, a Apple já indicava a direção que ela tomaria: lançou uma versão totalmente atualizada, com performance comparável (senão idêntica) à geração atualíssima de telefones.

Com o iPhone 12 mini, a Apple apenas formalizou o iPhone pequeno como um integrante da família oficial de iPhones atuais. Mas o público para quem ele apelaria continuou exatamente o mesmo: utilizadores que gostam de ecrãs pequenos, e que preferem as bordas retas.

É-me inconcebível a ideia de que a Apple tinha grandes expectativas para o pequeno iPhone. Os analistas, claro, sempre sobrevalorizam tudo para poder justificar retroativamente o pessimismo. Mas a Apple tem os dados de uso. Ela sabe exatamente o tamanho do mercado para um iPhone diminuto, e ela também sabe que não há problema em vender pouco, se o plano for vender pouco desde o inicio.

O relatório mais recente da Counterpoint Research diz que apenas 5% dos iPhones 12 vendidos nos EUA nas duas primeiras semanas do ano foram iPhones 12 mini.

Isso representa, no mínimo, alguns bons milhões de dólares de faturamento com uma margem de lucro de pelo menos 30%, levando em conta os relatórios fiscais recentes da Maçã.

Eu não sei o que pensas, mas parece-me que faturar alguns milhões de dólares é melhor do que não faturar… nada. A Apple de Tim Cook, um homem de operações, não a tornou na empresa mais valiosa do mundo por acaso. Recentemente, a Businessweek reportou que ele, pessoalmente, discute descontos de US$ 0,0001 com fornecedores de peças para maximizar o lucro dos iPhones.

É bem verdade que o iPhone 12 mini dificilmente faria o mesmo sucesso dos seus irmãos maiores, ou até mesmo entre o público que havia acabado de comprar um novo iPhone SE.

Mas neste caso, a diferença entre “vender pouco” e “vender abaixo do esperado” é gigantesca, apesar do número ser exatamente o mesmo.

Marcus Mendes profile image Marcus Mendes
Publicado a
Crónicas