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Design Gráfico visto pela tela de um iPad: entrevista com Kevin Cruz
João Valente Joana Cabral

Design Gráfico visto pela tela de um iPad: entrevista com Kevin Cruz

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Dia 16 de janeiro, sentámo-nos à conversa via Skype com o Kevin Cruz. Caloiro em 2013 na Faculdade de Arquitetura, em Lisboa, no curso de Design, focou o seu estudo no design de produto, tendo depois, no último ano, feito um workshop de caligrafia. Foi este que despoletou o interesse pelo lettering.

Gosta de explorar a combinação da letra com a fotografia, algo que tem implementado no seu trabalho recente.


Finalizou o curso universitário em 2016 e trabalhou até ao final do ano de 2019 numa empresa como Designer, onde criou imagem de diversos produtos para empresas de terceiros.

Agora, Kevin propõe-se como um freelancer e procura trabalhos mais relacionados com o lettering.

O iPad foi a porta de entrada para o digital ou já tinhas utilizado algum dispositivo do género antes?

Não. Na verdade eu comecei com o papel e acabava por fotografar o resultado final. Mais tarde, comecei a explorar a digitalização dos trabalhos para depois editar em Photoshop, quer a imagem, quer a cor. Um trabalho bem mais moroso e aborrecido de fazer em comparação com o iPad.

Experimentei algumas mesas gráficas de uns amigos antes de comprar o iPad, no entanto, para quem não está habituado, não é tão natural. Enquanto no iPad estamos a olhar diretamente para onde estamos a escrever e vemos a acontecer, numa mesa gráfica temos de olhar para o ecrã do computador e desenhar noutro sítio. Mesmo a nível de sensibilidade e resposta no ecrã, nunca é a mesma coisa.

Antes de comprar o iPad, não consideraste nenhum outro dispositivo, como o Surface da Microsoft?

A compra do iPad foi influenciada por um amigo meu que já tinha um, e que me acabou por "vender" muito bem o produto. Sei que há outras, no entanto, assim que experimentei o dele e vi a diferença do resultado final dos meus trabalhos feitos em papel, digitalizados e editados e os dele feitos no iPad e, posteriormente, editados, fiquei logo convencido e decidi logo investir.

Abandonaste por completo o papel, portanto?

Trabalho muito menos com papel, sem dúvida. Acabo por fazer uns rabiscos, mas nada de mais. O que me chateava mais com o papel é que tinha de me sentar à secretária para desenhar, passar depois para computador e editar. Com o iPad é tudo muito mais simples. Posso estar em qualquer lugar, na mesa ou no sofá e, depois, facilmente passo para o computador.

Não te vês a trocar o iPad por outro produto?

Não, não tenho razões de queixa. Já fazer um upgrade para outro modelo superior pode vir a acontecer. No entanto, atualmente o iPad não está lento nem nada que se pareça, pelo que, esta troca não estará para um futuro próximo.

Para além do iPad, tens mais algum dispositivo Apple?

Sim, tenho um MacBook Pro e um iPhone X. O MacBook facilita imenso o trabalho de transferir ficheiros para depois serem editados.

Que aplicações utilizas no teu trabalho?

Utilizo uma aplicação que é muito conhecida na App Store para este tipo de trabalhos - o Procreate. Está, sem dúvida nenhuma, muito bem projetada e até a seleção dos pincéis que queremos utilizar e a forma como os podemos utilizar é fantástica.

Isto, não invalida claro poder experimentar outras opções para desenhar.

Por vezes, quando me dá jeito fazer algum tipo de manipulação da imagem, acabo por passar alguns trabalhos para o Photoshop no MacBook - uma vez que a aplicação permite exportar diretamente em formato .psd. Se não for o caso, faço tudo no Procreate.

Há algum acessório do iPad com o qual tu não consigas viver?

Claramente o Apple Pencil. Curiosamente, também não uso mais nenhum, portanto, a resposta é mesmo o Apple Pencil.

Se eu fosse designer gráfico e te estivesse a pedir conselhos, o que dirias sobre o iPad para me convencer a comprá-lo?

Há uma diferença muito grande em utilizar um iPad em prol da tradicional folha de papel, que se prende na facilidade do processo. Aqui, fazemos uma imagem em que podemos facilmente trocar as cores, se nos enganarmos podemos voltar atrás ou redefinir a composição. Já no papel, se nos enganarmos e quisermos ser perfeccionistas, como eu, teremos de passar para o Photoshop e depois retocar.

O digital facilita muito, sobretudo com esta aplicação, uma vez que conseguimos ter vários pincéis disponíveis com apenas um lápis (o Apple Pencil), poupando muito trabalho e muita desarrumação.

Ainda, consigo produzir muito mais e ter muito mais conteúdo para mostrar, que é muito interessante para qualquer designer gráfico, sobretudo quem trabalhe como freelancer.

Como designer, não sentes falta da sensação do lápis ou do pincel a passar por cima da folha de papel?

Eu, por acaso, adaptei-me muito bem. O traçado ao utilizar o iPad é muito natural. Claro que não é uma superfície rugosa e não se sente da mesma forma, no entanto, acho que continua a ser muito natural.

Sei que há opções de películas Paperlike ou mesmo pontas específicas para o Apple Pencil - até porque recebo imensa publicidade disso nas redes sociais e internet - mas nunca ponderei comprar. Só porque não sinto falta desse feel.

Investir mais no trabalho que nós queremos mostrar às pessoas.

Fugindo da esfera da Apple, que conselho davas a alguém que quisesse seguir design gráfico?

O primeiro, e mais importante de tudo, é investir numa boa formação. Não é necessariamente fazer um curso na faculdade que, apesar de tudo, dá uma melhor segurança em certos aspetos. A verdade é que, o nosso trabalho como designers gráficos depende muito do tempo que investimos. Apesar de que é certo que há regras básicas que qualquer designer gráfico tem de saber, mas principalmente, o mais importante é trabalhar muito. Às vezes não importa muito as notas que temos na faculdade, mas sim o trabalho final que vai chamar pessoas. Acaba por ser investir mais no trabalho que nós queremos mostrar às pessoas, focar mais na qualidade que propriamente a nota sujeita ao que o professor queria exatamente.

Achas que vale a pena investir num perfil para partilhar o conteúdo?

Isto foi um trabalho gradual. Primeiro comecei por partilhar algumas fotografias do trabalho ainda feito em papel no meu perfil pessoal. Depois criei a conta específica para o assunto e, desde aí, tem sido um crescimento constante.

Eu, como não estava propriamente à procura de trabalho também acabei por nunca receber nenhuma proposta específica, a não ser algumas propostas esporádicas, como uma imagem para oferecer a alguém ou coisas desse género.

Agora, por último, como tenho trabalhado mais e investido mais, se calhar, tenho tido mais engagement em relação ao meu trabalho que, de certa forma, ajuda a saber o que as pessoas querem ver mais. Isto pode também ajudar no caso de querer enviar o meu portfólio a alguma empresa.

Adoro trabalhar a identidade de marcas.

Se alguém quiser trabalhar contigo como é que o pode fazer e que tipo de propostas aceitarias?

O último e primeiro trabalho que tive assim que saí da universidade foi com a mentalidade de me dar experiência. No entanto, não era o tipo de trabalho que desafiava mais a nível criativo.

Neste momento, o que me daria certamente gozo, seria algo que me desse a liberdade de ser criativo e fazer as coisas à minha maneira. A partilha do meu trabalho nas redes sociais permite que as pessoas que queiram trabalhar comigo já saibam o tipo de coisas que eu gosto de fazer e como as faço.

Para o futuro gostaria de ter propostas que sejam mais desafiantes, mais relacionados com a ilustração, não necessariamente ligada ao lettering.

Voltando novamente à bolha da Apple, o que achas que a Apple deveria colocar no iPad seria uma boa adição no teu trabalho?

Não tenho grandes críticas ao iPad, honestamente. A primeira coisa que me ocorre, mas que não está diretamente ligada à Apple, era uma aplicação que facilitasse a animação de lettering e logotipo. Apesar de termos o After Effects - no MacBook - há também outras especificas para o iPad, mas que não são tão user friendly e acabo por não as conseguir utilizar.

Por último, o maior cliché que se diz sempre e que é verdade - praticar todos os dias.

Se qualquer um de nós, que nunca estudou design nem nada do género, quiser começar a fazer algumas coisas do tipo de lettering, que conselhos é que tu dás?

Ter noções básicas de caligrafia. Apesar de caligrafia e lettering não andarem sempre de mãos dadas, algumas noções ajudam muito. Por exemplo, controlar o tamanho da letra, tê-las sempre bem desenhadas e fazer um bom controlo do fluxo do traço é muito importante. Até mesmo porque o iPad permite, através da força aplicada com o Pencil, criar um traço mais grosso ou mais fino e isso vem da caligrafia.

O lettering é mais letras desenhadas e permite um pouco mais de liberdade no processo criativo. Por último, o maior cliché que se diz sempre e que é verdade - praticar todos os dias.

Utilizas o lettering no teu dia a dia?

Sim, procuro utilizar frequentemente.

E o iPad, utilizas no teu dia a dia para além do trabalho?

Sim, claro. Para além do normal das redes sociais e stream para a TV, também procuro bastante inspiração no Instagram e no Pinterest.

Tendo em conta que utilizas um iPad de 10.5", achas que um ecrã maior faria a diferença?

Talvez, creio que é uma questão de experimentar. Não diria que não.

Por último, aceitas o desafio de fazer a imagem de destaque para o artigo desta entrevista?

Claro! Isso seria um ótimo desafio.


Se gostaste do trabalho do Kevin, podes acompanhá-lo no Instagram ou no Behance.

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