O fim do HomePod é um ruim, mas é ótimo!
Marcus Mendes

O fim do HomePod é um ruim, mas é ótimo!

PUB

Nada como uns dias a mais para pensar sobre um assunto e ganhar uma nova perspectiva sobre alguma coisa, não é? Ao longo dos últimos dias, quanto mais eu pensei sobre o fim do HomePod, mas eu me convenci de que ele deve ser encarado como uma boa notícia para os entusiastas desse segmento. Explico: o HomePod sempre foi uma espécie de elefante branco para a Apple. Ela investiu muito dinheiro por MUITOS anos num projeto que entregou um produto caro em comparação com a concorrência, e com um hardware muito mais completo do que o necessário para cumprir seu propósito.

O grande problema dele é que, apesar dele ser caro em comparação com a concorrência, ele era relativamente barato se analisado de forma isolada. Toda a tecnologia de análise do ambiente, toda a modulação do som para preencher cada ambiente de forma única e personalizada, e até mesmo a forma como o produto era construído internamente habilitariam a Apple a cobrar mais do que os US$ 350 (e posteriormente US$ 300) pelo produto. Arrisco dizer que se este exato produto tivesse sido lançado por outra empresa, com exatamente as mesmas tecnologias e exatamente os mesmos materiais, ele custaria mais do que US$ 350/300. É basicamente a mesma situação dos AirPods Max. Não são baratos, é claro, mas entusiastas de fones de ouvido high-end costumam dizer “são baratos, sim”. Tudo é referência, não é mesmo?

Com o anúncio do HomePod mini, parece-me que a Apple passou um recado velado. Ao lançar um produto menor, mais barato, menos tecnologicamente ambicioso e, até mesmo, menos capaz do que seu irmão maior, entendo que a Apple tenha admitido que não havia a necessidade de mirar tão alto com o primeiro HomePod. Enquanto ela aproveita do poder da marca do iPhone para cobrar alto pelo produto, sabendo que as pessoas irão pagar o preço, independente de qual seja, agora ficou claro que nem mesmo a Apple consegue convencer as pessoas a fazerem o mesmo em outras categorias de produtos.

Quanto mais eu penso sobre o HomePod mini, mais ele me parece ser o equivalente às gerações seguintes ao Apple Watch original. Enquanto o foco da primeira geração do relógio era composto em partes iguais pela tríplice Saúde, Comunicação e Moda, as edições seguintes foram adaptando o propósito do relógio depois da Apple perceber que a habilidade de enviar a frequência cardíaca para entes queridos não era exatamente algo desejável pelos clientes. Reduziu-se então a importância da comunicação intimista, deixando mais espaço para trabalhar de forma específica os nichos de Moda e Saúde, em diferentes importâncias também.

E assim me parece ser o caso do HomePod mini. Informada pelos fracassos da primeira geração, a Apple priorizou o que realmente importa para o grande público disposto a gastar dinheiro com uma caixa conectada: ela baixou o preço, e reduziu bastante o overkill tecnológico que, para 99% dos usuários, passava completamente despercebido (ou não despertava o menor interesse).

Surpreendeu-me perceber que nesses últimos dias, muitas pessoas viram o fim do HomePod original como um prenúncio de que, em breve, o HomePod mini terá o mesmo fim. Tenho para mim exatamente o contrário: o fim do HomePod original veio quase imediatamente depois do lançamento do HomePod mini (ok, aproximadamente seis meses depois) porque a reação do público, os reviews positivos e até mesmo as vendas iniciais do produto deram a ela a confiança de que, depois de um primeiro passo em falso que saiu bem caro, ela acertou com o segundo lançamento.

O fim do HomePod original é a forma da Apple dizer que ela segue, sim, comprometida com a ideia de continuar desenvolvendo a área de objetos domésticos conectados. Sendo assim, se o HomePod mini era a solução perfeita para o problema do HomePod, fico curioso para ver o que a Apple fará com a Apple TV. Quem sabe mês que vem a gente descobre?

Marcus Mendes profile image Marcus Mendes
Publicado a
Crónicas