Depois da App Store, o iMessage da Apple estava a ser investigado desde o verão pela União Europeia no âmbito do DMA (Digital Markets Act). O objetivo era simples, perceber se o iMessage era uma plataforma central e gatekeeper (protetor do portão) e com isso impossibilitava a concorrência de entrar no lindo jardim fechado que é o iOS, mas sejamos sinceros, alguma vez alguém achou que, especialmente fora dos Estados Unidos, o iMessage é central em algum lado? Eu sei que há grupos de amigos e relações nos EUA que terminam pela guerra “bolha verde vs. bolha azul”, mas fora da terra prometida a expressão do iMessage é mínima.
Um pouco de contexto para não ficarem perdidos, e nada do que eu disser serão conselhos jurídicos, até porque não tem nada a ver com isso, mas continuem comigo. Algures em 2022, a União Europeia votava e tornava efetivo o DMA, um conjunto de diretivas e regulamentos com o intuito de promover uma economia digital mais justa, que evite a existência de gatekeepers, dificultando a vida aos cidadãos da UE. A regulamentação mais popular e conhecida foi a de obrigação da utilização de USB-C em equipamentos electrónicos com uma bateria recarregável e mais recentemente a Apple foi forçada a abrir o iOS a lojas de aplicações de terceiros (o que vai correr super bem, não haja dúvida). Agora estávamos atrás do iMessage, esse serviço rei no velho continente não haja dúvida, onde 0 em cada raíz quadrada de pessoa utiliza o iMessage. Eu consegui passar um grupo de amigos inteiro para o iMessage, mas pouco durou até alguém criar o famoso grupo número 3145 no Whatsapp, começarmos o desfile de stickers e mensagens de áudio do tamanho de um podcast.
Só para acabar o contexto e sem chamar muito, se o iMessage ficasse obrigado a responder ao DMA, basicamente teria de ser possível usar serviços como o WhatsApp, Messenger, Signal, por aí fora com a aplicação de “Mensagens” do iPhone e conseguir utilizar o iMessage igualmente noutros serviços. Seria necessário abrir o iMessage a tudo e a todos, independentemente da app e do sistema operativo, o que sei é que a Beeper iria ter muito menos trabalho a trazer o iMessage para Android.
Mas perguntam vocês, qual seria o problema se isso acontecesse? Bem para além de ser ineficiente porque o iMessage não é um serviço dominante, e a própria investigação da União Europeia chegou a essa conclusão, o problema é que abre um precedente e dos grandes. Eu sempre disse que o tema do USB-C só era tão aplaudido porque até dava jeito, apenas isso, mas qual será a nossa posição quando a UE passar a ser o Head of Product das gigantes tecnológicas? Teremos um conjunto de pessoas em Bruxelas a definir funcionalidades em sistemas operativos e estamos a um pequeno passo de começarem a desenhar ecrãs em determinadas experiências.
Por enquanto temos o iMessage salvo, tanto em termos de segurança como de funcionalidades. Curiosamente foi a falta de expressão da Apple, a maior empresa tecnológica do mundo, na Europa que possibilitou salvar um dos seus bebés e pelo menos para já a mítica frase de Tim Cook “buy your mom an iPhone” para quem quer utilizar iMessage em Android continua em cima da mesa.
Mas voltando, somos todos pro-consumidor com as decisões do DMA enquanto elas nos derem jeito, quando começarmos a ver o impacto menos positivo nos telemóveis que compramos com o nosso dinheiro seremos assim tão tolerantes? Até que ponto será sustentável para uma empresa andar com versões de sistemas operativos profundamente diferentes entre a União Europeia e o mundo? Será que por aqui vamos começar a ter (ainda mais) limites no que podemos aceder?
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