"Cherry": uma história sobre guerra, traumas e drogas, que se perde em excessivos floreados (Crítica)
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Joe Russo e Anthony Russo ficaram conhecidos por realizar alguns filmes do Universo Cinematográfico da Marvel (UCM), como Capitão América: O Soldado do Inverno, Capitão América: Guerra Civil, Vingadores: Guerra do Infinito e Vingadores: Endgame. Com Cherry, a célebre dupla de cineastas sai da sua zona de conforto e abraça um projeto marcadamente sombrio e sensível, onde se tecem críticas cirúrgicas à guerra no Iraque, ao tratamento vergonhoso dos veteranos de guerra e ao acompanhamento feito pelos médicos, que banalizam a prescrição de OxyContin e contribuem para a epidemia de opioides.
Baseado no romance semi-autobiográfico de Nico Walker, Cherry acompanha a história de um jovem que se alista no exército americano para servir como médico, no Iraque. Quando regressa a casa como um herói de guerra, Cherry (Tom Holland, o Homem-Aranha do Universo Marvel) luta contra os demónios de uma perturbação de stress pós-traumático (PSPT) não diagnosticada, e torna-se viciado em heroína. Para sustentar o vício, começa por roubar bancos, deteriorando pelo caminho a sua relação com a sua mulher Emily (Ciara Bravo).
Tom Holland e Ciara Bravo em “Cherry” (Apple TV+)
O romance de Walker foi adaptado para o ecrã por Angela Russo-Otstot e Jessica Goldberg, criadora da série de culto The Path. Dividido em capítulos que ajudam a separar as diferentes fases da vida do protagonista em pedaços mais digeríveis, Cherry é apenas uma tentativa de manter o mesmo ritmo e continuidade presentes na obra de Walker. As balizas não impedem que o filme caia numa rotina repetitiva de temas e sentimentos, muito por culpa de uma abordagem fortemente estilizada e algumas escolhas desconcertantes tomadas pelos realizadores. Há cenas em que as luzes de fundo se apagam e os personagens ficam à mercê dos holofotes; monólogos dirigidos ao espectador, que reiteram apenas o que estamos a ver no ecrã e em nada contribuem para a compreensão da história; momentos desnecessariamente enfatizados por efeitos freeze frame ou em câmara lenta; menções sarcásticas como “Dr. Whomever” ou bancos com o nome “Shitty Bank” (leia-se “Citibank”), etc. Trata-se de uma narração vaga, lenta e demasiado encorpada, marcada por floreados que não se coadunam com a voz de Nico Walker e só se justificariam em pequenas doses.
A atuação crível de Tom Holland é um dos poucos aspetos positivos existentes num filme com contornos estéticos artificiais e excessivos. Sem desmerecer os restantes atores, Holland é quem carrega a história aos ombros, ao interpretar um tipo perdido nas circunstâncias e pensamentos que já não consegue controlar. Nada parece acontecer fora do escopo do ator, uma vez que este aparece em quase todas as cenas. A maioria dos personagens orbitam em torno de Cherry e limitam-se a ser vistos pelos olhos do protagonista, servindo de meros adornos no decorrer do filme. Excetua-se aqui Emily, parceira de longa data de Cherry, embora se perca no percurso, tal como a sua identidade.
Tom Holland, ator que dá vida a um jovem com PSPT, em "Cherry" (Apple TV+)
Depois de tantos filmes realizados em contexto corporativo, os irmãos Russo tentam encontrar um tom mediano para Cherry, algures entre o drama e a sátira, mas sem nunca o conseguirem. A narrativa por capítulos torna a intenção do filme duvidosa, mina a credibilidade dos personagens e qualquer empatia emocional que possamos ter. A guerra, os traumas, a dependência de drogas e o crime são assuntos demasiado sérios e importantes para serem abordados com tantos floreados e quebras estilísticas como os que podemos vislumbrar em Cherry.
Nota: 5/10 Cherry (Cherry – EUA, 12 de março de 2021 na Apple TV+) Duração: 2h 22min Realização: Anthony Russo, Joe Russo Argumento: Angela Russo-Otstot, Jessica Goldberg Elenco: Tom Holland, Ciara Bravo, Jack Reynor, Michael Rispoli, Jeff Wahlberg, Forrest Goodluck, Michael Gandolfini, Suhail Dabbach, Daniel R. Hill, Fionn O’Shea
Ainda a algumas semanas do lançamento dos novos iPhones, a Apple parece ter querido prendar os seus consumidores com a presença alargada do Apple Maps...
Joe Russo e Anthony Russo ficaram conhecidos por realizar alguns filmes do Universo Cinematográfico da Marvel (UCM), como Capitão América: O Soldado do Inverno, Capitão América: Guerra Civil, Vingadores: Guerra do Infinito e Vingadores: Endgame. Com Cherry, a célebre dupla de cineastas sai da sua zona de conforto e abraça um projeto marcadamente sombrio e sensível, onde se tecem críticas cirúrgicas à guerra no Iraque, ao tratamento vergonhoso dos veteranos de guerra e ao acompanhamento feito pelos médicos, que banalizam a prescrição de OxyContin e contribuem para a epidemia de opioides.
Baseado no romance semi-autobiográfico de Nico Walker, Cherry acompanha a história de um jovem que se alista no exército americano para servir como médico, no Iraque. Quando regressa a casa como um herói de guerra, Cherry (Tom Holland, o Homem-Aranha do Universo Marvel) luta contra os demónios de uma perturbação de stress pós-traumático (PSPT) não diagnosticada, e torna-se viciado em heroína. Para sustentar o vício, começa por roubar bancos, deteriorando pelo caminho a sua relação com a sua mulher Emily (Ciara Bravo).
O romance de Walker foi adaptado para o ecrã por Angela Russo-Otstot e Jessica Goldberg, criadora da série de culto The Path. Dividido em capítulos que ajudam a separar as diferentes fases da vida do protagonista em pedaços mais digeríveis, Cherry é apenas uma tentativa de manter o mesmo ritmo e continuidade presentes na obra de Walker. As balizas não impedem que o filme caia numa rotina repetitiva de temas e sentimentos, muito por culpa de uma abordagem fortemente estilizada e algumas escolhas desconcertantes tomadas pelos realizadores. Há cenas em que as luzes de fundo se apagam e os personagens ficam à mercê dos holofotes; monólogos dirigidos ao espectador, que reiteram apenas o que estamos a ver no ecrã e em nada contribuem para a compreensão da história; momentos desnecessariamente enfatizados por efeitos freeze frame ou em câmara lenta; menções sarcásticas como “Dr. Whomever” ou bancos com o nome “Shitty Bank” (leia-se “Citibank”), etc. Trata-se de uma narração vaga, lenta e demasiado encorpada, marcada por floreados que não se coadunam com a voz de Nico Walker e só se justificariam em pequenas doses.
A atuação crível de Tom Holland é um dos poucos aspetos positivos existentes num filme com contornos estéticos artificiais e excessivos. Sem desmerecer os restantes atores, Holland é quem carrega a história aos ombros, ao interpretar um tipo perdido nas circunstâncias e pensamentos que já não consegue controlar. Nada parece acontecer fora do escopo do ator, uma vez que este aparece em quase todas as cenas. A maioria dos personagens orbitam em torno de Cherry e limitam-se a ser vistos pelos olhos do protagonista, servindo de meros adornos no decorrer do filme. Excetua-se aqui Emily, parceira de longa data de Cherry, embora se perca no percurso, tal como a sua identidade.
Depois de tantos filmes realizados em contexto corporativo, os irmãos Russo tentam encontrar um tom mediano para Cherry, algures entre o drama e a sátira, mas sem nunca o conseguirem. A narrativa por capítulos torna a intenção do filme duvidosa, mina a credibilidade dos personagens e qualquer empatia emocional que possamos ter. A guerra, os traumas, a dependência de drogas e o crime são assuntos demasiado sérios e importantes para serem abordados com tantos floreados e quebras estilísticas como os que podemos vislumbrar em Cherry.
Nota: 5/10
Cherry (Cherry – EUA, 12 de março de 2021 na Apple TV+)
Duração: 2h 22min
Realização: Anthony Russo, Joe Russo
Argumento: Angela Russo-Otstot, Jessica Goldberg
Elenco: Tom Holland, Ciara Bravo, Jack Reynor, Michael Rispoli, Jeff Wahlberg, Forrest Goodluck, Michael Gandolfini, Suhail Dabbach, Daniel R. Hill, Fionn O’Shea
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