Os iMacs coloridos podem mudar tudo. De novo.
Marcus Mendes

Os iMacs coloridos podem mudar tudo. De novo.

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Um dia desses, o YouTuber Jon Prosser publicou um rumor que deixou muita gente confusa, muita gente incrédula, e muita gente bastante animada. De acordo com Prosser, a Apple está a preparar-se para lançar a próxima geração de iMacs em uma variedade de cores, ao invés de mantê-lo apenas na cor prateada que ela usa há mais de 10 anos.

Esses iMacs, segundo Prosser, virão nas cores prata, cinza espacial, verde, azul celeste e ouro rose. Junto do rumor, Prosser aproveitou para publicar um conceito do que podemos esperar dessas cores e… bem… há bastante espaço para melhora. Os tons quase pastéis escolhidos por Prosser para ilustrar o rumor lembram um pouco as tonalidades escolhidas pela Apple para a geração mais recente de iPads, mas ainda assim, pessoalmente, o aspeto geral dos iMacs ficou um tanto pavoroso.

Por isso, para seguir adiante com essa coluna, partirei da arriscada premissa de que essas não são as cores finais, e que a apple escolherá tonalidades um pouco mais atraentes do que as das linhas de geladeiras e eletrodomésticos dos anos 50.

Pois bem. Dito isso, a ideia de trazer cores de volta à linha de iMacs pareceu-me perfeita. Especialmente se for verdade o rumor que diz que a Apple pretende mudar o design do iMac pela primeira vez em uma década, não há momento mais apropriado para sinalizar uma quebra completa com o passado, e trazer uma atitude completamente nova ao computador que, não podemos esquecer, salvou a Apple da falência na sua primeira geração.

Aliás, lembremos dessa primeira geração de iMacs. Numa época dominada por torres com aquele tom de amarelo velho, que já foi branco um dia, Jony Ive apresenta ao mundo um computador tudo-em-um translúcido, e com a carcaça de plástico colorida. O próprio Ive disse que a função da alça no topo do computador era convidar o usuário a interagir com o hardware. Numa época em que computadores eram caixas impenetráveis de mistério, o iMac apresentava as suas entranhas para quem quisesse ver, e ainda indicava para o utilizador que ele poderia tocá-lo. Ele não morderia.

O impacto que esses iMacs tiveram na história traz reverberações até hoje. Eu mesmo tenho um aspirador de pó portátil, fabricado recentemente, que é feito de um plástico azul semitransparente numa tonalidade não tão diferente da do iMac naquela cor. Até mesmo alguns equipamentos hospitalares seguem essas estética até hoje, o que dificilmente teria acontecido não fosse a ideia do então jovem Jony Ive de tornar a tecnologia um pouquinho mais divertida.

Pois bem. O tempo foi passando, o jovem Jony Ive foi deixando de ser tão jovem assim e, como um bom cidadão britânico, a ludicidade foi dando lugar a uma sobriedade que, ironicamente, guiou a Apple na direção de uma linha de produtos mais sóbria, mais monocromática e, francamente, mais chata.

Foi-se a época dos iPods coloridos com os seus comerciais vibrantes, foi-se a época dos Macs tangerina e até mesmo do Flower Power que até hoje não sei se foi lançado de forma irônica, e instaurou-se a era dos 50 Tons de Space Gray. Ano após ano, quando muito, um iPhone Product Red dava as caras para a alegria de quem não queria mais escolher entre um iPhone branco, preto ou cinza.

Para ser justo, a Apple manteve algumas iniciativas de cores ao longo dos anos. O iPhone 5c foi uma delas. Ou melhor, tentou ser. O iPhone 5c deu origem a uma estranha linha de pensamento Cupertinístico que ditava que produtos coloridos eram algo de segunda classe, enquanto os produtos realmente respeitáveis eram pretos, cinza, brancos ou, no máximo, dourados.

De certa forma, esse pensamento perdura até hoje. Vejamos a linha de iPhones 12. Temos os iPhones Pro nessas cores sisudas (com um comemorado tom azul), e os iPhones 12 “normais” em sua plenitude de cores divertidas.

A boa notícia é que, não por coincidência, a quantidade de produtos coloridos vem aumentando na mesma medida em que aumentam os anos em que Ive deixou a liderança do design  de hardware (e software) da Apple. E não me entendam mal: Jony Ive indubitavelmente entrará no panteão dos maiores designers da era moderna, junto de Rams, Sagmeister, Lagerfeld e Manzoni. Mas o seu purismo minimalista foi levado a cabo com algum custo, e o bom-humor colorido que animava a linha de produtos da Apple foi uma das vítimas.

O que me traz de volta ao rumor dos iMacs coloridos. Se a Apple realmente tiver a coragem de quebrar completamente com a tradição monocromática auto-imposta da linha de computadores que outrora a salvou da falência, arrisco dizer que estamos prestes a entrar numa era completamente nova da história da Maçã.

Uma era que, ao romper com as regras postuladas por Ive, abre as possibilidades para um novo capítulo e uma nova atitude sobre a qual poderá ser o caminho da computação pessoal. E o melhor disso tudo, é que ao mesmo tempo, ela significará uma volta às origens. Porreiro, não é?

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Crónicas