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A Ilha dinâmica é o futuro, mas não é o iPhone inteiro
Marcus Mendes

A Ilha dinâmica é o futuro, mas não é o iPhone inteiro

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Após o sucesso unânime da Ilha dinâmica, era natural que, com o passar dos dias – e especialmente no caso de quem já está com o novo iPhone em mãos – começassem a surgir as primeiras observações mais… digamos… críticas à Ilha dinâmica. E não digo crítica do ponto de vista ruim, mas sim críticas relativamente construtivas, ainda que muitas vezes apresentadas sob o espectro de “A Apple fez isto errado, mas ao contrário dela eu sei exatamente qual teria sido o jeito certo de fazê-lo”. Falo aqui sobre a hierarquia de interações relacionadas à Ilha dinâmica. Especificamente, sobre a diferença entre um simples toque, e um toque prolongado.

Hoje em dia, e já adianto que eu acredito que esta seja a maneira CORRETA da Ilha dinâmica se comportar, a função comporta-se da seguinte forma: se ativares um cronómetro, ao tocar e segurar na área da Ilha dinâmica que exibe o controlo, a Ilha dinâmica expande-se. Já se apenas lhe tocares e soltares logo em seguida, o iOS abre a app completa do relógio, em ecrã completo. Os críticos dessa decisão defendem que o comportamento deveria ser exatamente o oposto. Eles dizem que se um utilizador apenas toca e solta a Ilha dinâmica, ela deveria expandir-se, e se um utilizador toca e segura a Ilha dinâmica, aí sim o iOS deveria abrir a app em ecrã completo. A justificação dessas pessoas – e que faz sentido! – é que ao tocar brevemente na Ilha dinâmica, o utilizador está a sinalizar ao iOS que ele gostaria de apenas ativá-la, ao contrário de um toque mais prolongado, que indica uma intenção mais profunda de interagir com o cronómetro e, por consequência, abrir a app por completo.

O problema desta lógica é que ela vai contra 100% do comportamento de todo o resto do sistema. Se queres abrir um link, o que fazes? Um toque breve. Se quiseres abrir um app? Toque breve.  Navegar por interfaces? Novamente, toque breve. Os toques prolongados (que substituíram a funcionalidade física do 3D Touch) servem para, invariavelmente, trazer opções contextuais, similares ao clique com o botão direito do rato no Mac. Fazer a Ilha dinâmica expandir-se como resultado de um toque breve quebraria esta lógica, tornando-a invertida apenas para a Ilha dinâmica.

Por outro lado, eu compreendo que grande parte dessas críticas seja resultado da empolgação que a Ilha dinâmica traz. Ela é como um brinquedo novo, e a nossa inclinação natural é brincar ao máximo com ele enquanto ele ainda tem este ar de novidade. Mas viajemos um pouco no tempo. Daqui a 6 meses, 2 anos, 5 anos, a Ilha dinâmica não será mais uma novidade. Não quero soar pessimista, mas pensaremos tanto nela quanto pensamos em qualquer outra funcionalidade do iPhone. Neste futuro, seria terrivelmente incómodo ter que tocar e segurar no ecrã pelo que certamente pareceria uma eternidade apenas para aceder o cronómetro, certo? Pois bem. Este é o ponto. Da forma como a Ilha dinâmica foi implementada, a Apple mostrou uma extrema contenção ao evitar a armadilha de transformar a interação em uma espécie de pedágio resultado do simples facto da chegada de uma nova funcionalidade.

Digo o mesmo para notificações. Há quem defenda que o facto das notificações ainda se comportarem como um balão independente, separado da Ilha dinâmica, é uma incongruência. Essas pessoas defendem que no futuro, a Apple deverá transformar as notificações em mais uma funcionalidade da Ilha dinâmica, eliminando por completo o comportamento que conhecemos hoje em dia nos iPhones anteriores aos 14 Pro.

Novamente, isso seria um erro. Ou pelo menos, teria sido um erro nesta primeira versão da Ilha dinâmica que, conceitualmente, foi pensada para providenciar informações de algo que está a acontecer em tempo real, mas que necessariamente teria que prender o utilizador numa aplicação para que essa atualização pudesse ser vista. Status do Uber que está a chegar, placar do jogo de futebol, tempo restante no cronómetro, reprodução da música, etc. Todas essas atividades, ainda que em segundo plano, são ativas. Já uma notificação, ainda que de uma conversa que esteja em curso, é passiva e não tem a menor necessidade de valer-se da Ilha dinâmica. Aqui, também, parece-me que a empolgação com as possibilidades técnicas da Ilha dinâmica trazem a ânsia de utilizá-la para tudo, quando na verdade a maior chave do seu sucesso residirá justamente nessa contenção e nesse emprego cuidadoso, porém sempre apropriadamente útil.

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Opinião