Comprei a Apple TV. E agora, Vodafone?
Gonçalo Antunes de Oliveira

Comprei a Apple TV. E agora, Vodafone?

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Chegado a casa com aquela pequena embalagem branca no saco, não quero perder tempo para desenvolver o meu ecossistema Apple. Não foi barata, mas valeu a pena e estou entusiasmado com a minha novíssima Apple TV 4K!

Embora seja absolutamente intuitivo, para efeitos do que pretendo expor, vamos imaginar que, para a colocar a funcionar, tive que ir ao website da Apple.

Na secção de apoio e suporte da página portuguesa da marca, a configuração da Apple TV demonstra-se extremamente simples, aliás, como é habitual na maçã. Em seis breves passos, a caixinha mágica saiu da embalagem e fica logo pronta a utilizar.

A questão que norteia este artigo prende-se com o quarto passo: “Iniciar sessão com o fornecedor de TV”. Lendo-se “Em alguns países e regiões, poderá conseguir iniciar sessão na Apple TV com o seu fornecedor de TV ou TV por cabo para ver programas de TV e filmes incluídos na sua assinatura de TV ou TV por cabo”, seria para mim apenas mais uma questão de selecionar o fornecer e seguir até ao sexto passo. Só que não.

Seleção de fornecedores de TV
Seleção de fornecedores de TV

Na lista de fornecedores de TV surge a NOS e a MEO. Mas onde está a Vodafone? Será erro? Enfim... são apenas seis passos e afinal talvez não seja assim tão simples. Terei que fazer um update do tvOS?

Para não perder mais tempo nisto – afinal, quero começar a explorar o meu novo brinquedo – ligo o cabo de rede e concluo a instalação. Sim, porque o iPhone já fez quase tudo por mim. Já está ligada ao iCloud, já tem Wi-Fi, pronto. Está tudo perfeito. E sigo para o sexto e último passo: obtenho as apps e começo a utilizar.

Mas fiquei perturbado. Seria o momento de centralizar tudo ali: o HomeKit, os serviços de streaming e, claro, se o aparelho é designado “TV”, pois então os canais de televisão! Adeus comandos. Olá tão ansiada organização!

Decidi procurar no Google para tentar perceber o que se passava e deparei-me com com a temática pretendida no Fórum Vodafone: “Vodafone TV na Apple TV”.

E aí a perturbação transmutou-se em surpresa e irritação. Sei que os responsáveis pelas respostas às questões colocadas nestes fóruns nada mais podem fazer do que padronizar:

  • A Vodafone está a trabalhar para ir ao encontro das necessidades dos clientes, melhorando os seus produtos e serviços”;
  • Garantimos que estamos tanto atentos ao mercado como às necessidades dos nossos Clientes e sempre a trabalhar para reforçar a nossa posição de liderança no que diz respeito aos nossos produtos e serviços. No entanto, após encaminhamento interno, não conseguimos adiantar-lhe uma previsão ou informação sobre alterações no exposto contudo, qualquer novidade será comunicadas nos meios habituais”

Será que a Vodafone está mesmo atenta ao mercado? Será que, como alguém escreveu naquele fórum, a Apple não está a facilitar a negociação com Vodafone? Decidi indagar.

A Vodafone opera em 21 países, dos quais 12 são Europeus, oferecendo os serviços que conhecemos por cá de forma bastante similar.

Albânia, Alemanha, Espanha, Grécia, Hungria, Inglaterra, Irlanda, Itália, Países Baixos, Portugal, Republica Checa e Roménia, todos estes países disponibilizam serviço de televisão com uma Set-top Box, VTV Box, TV Box, Mediabox. Enfim, a designação que quiserem para o descodificador. Mas, e através de uma app na Apple TV? Se a NOS e MEO já têm?

Este serviço é uma realidade na MEO desde 2019. Mas a Altice adiantou-se na corrida, estendendo esta modalidade às boxes Android, tal como se pode ler nesta notícia publicada em 20 de Agosto de 2020 no SapoTEK, intitulada “Serviço de televisão da MEO é o primeiro do mundo disponível simultaneamente numa nova box Android TV e Apple TV”.

No mês anterior, a 4 de Julho do mesmo ano, o website Dinheiro Vivo entrevistou o Diretor de Produto e Marketing da NOS,  no âmbito da qual explicou que a filosofia subjacente ao lançamento do fornecimento de serviços de TV para Apple é distinta daquela oferecida pela MEO. Nós, aliás, aqui no iFeed também cobrimos este lançamento. Podes ler aqui.

O que me faz voltar a perguntar: e a Vodafone?

Cada cliente tem a sua experiência. No meu caso, que já tive as três operadoras em casa, a Vodafone demonstrou-se claramente superior. O equilíbrio entre a tríade “Qualidade do serviço (rapidez constante, não existência de interrupções de fornecimento, etc.)” / “Assistência Técnica (rápida resolução dos problemas, envio de equipas, simpatia e conhecimento dos técnicos)” / “Preço”, ultrapassa, no meu ponto de vista, largamente a concorrência.

De seguida, levantou-se uma outra questão: será que este cenário ocorre apenas no nosso pequeno país à beira-mar plantado, esquecido pela Apple, que nem HomePod Mini vende, nem Siri em Português de Portugal disponibiliza e nem Apple Stores tem? Ok, tem a GMS Store, mas não é a mesma coisa.

E procurei. Acedi os 12 websites de todo e cada um dos países que indiquei acima, tendo conseguido ler o seu conteúdo através dessa maravilhosa ferramenta do Safari: o Tradutor.

O resultado foi impressionante: só na Alemanha é que é possível ter a aplicação de televisão da Vodafone na Apple TV. Tal como por cá, a NOS e a MEO.

Nota: site automaticamente traduzido via Safari. O idioma original é o Alemão
Nota: site automaticamente traduzido via Safari. O idioma original é o Alemão

Como se pode ver, o serviço está totalmente implementado na oferta ao cliente, com a app GigaTV (versão alemã da Vodafone TV), que permite a utilização da Apple TV enquanto alternativa à Set-top Box.

Nota: site automaticamente traduzido via Safari. O idioma original é o Alemão
Nota: site automaticamente traduzido via Safari. O idioma original é o Alemão

Mas só mesmo na Alemanha. Podia não existir apenas em Portugal ou talvez mesmo na Península Ibérica. Mas não. Constitui uma opção apenas num único país entre os 12 em que a Vodafone opera na Europa.

E a ampulheta continua, grão a grão, a verter a areia composta por clientes descontentes que ameaçam sair por este motivo. Chama-se em Economia a Vantagem Comparativa. Basta que a concorrência apresente uma característica que torne distintiva para que o consumidor possa alterar a perceção que constrói sobre a relação "custo-benefício" relativamente a um determinado bem ou serviço.

O mundo corporativo conhece muito bem estas regras. Mas serão os clientes detentores da Apple TV em número suficiente para fazer tremer o jogo entre a oferta e a procura deste mercado? Embora não me pareça que muita gente tenha esta caixinha maravilhosa que transforma qualquer televisão numa Super-Smart-TV (ainda por cima da Apple), a NOS e MEO parecem não concordar com esta acepção.

Se todos os investimentos implicam necessariamente retorno (e muito lucro), pois então afinal parece que investir na disponiblização de serviços para os utilizadores Apple (e no caso da MEO, também no Android) foi considerada prioritária. Não há almoços grátis. E todos sabemos que, com dinheiro, as grandes empresas não brincam.

Existindo esta opção nas gamas de oferta de um operador, nunca se sabe se este "smartificador" de televisões poderá vir constituir uma porta de entrada para o mundo Apple para quem nada tenha da marca, ou, por outro lado, mais um pequeno passo para aqueles que já detenham um iPhone ou um iPad, por exemplo.

Para quem detém a Apple TV, e estando satisfeito com o seu fornecedor, de repente, a ausência da palavrinha "Vodadone" no quarto passo da instalação dá mesmo muito que pensar.

Será a Alemanha um estudo de caso, estando tudo pronto para implementação no resto da Europa? Ou será que, aquando do distante lançamento da Apple TV 8K, continuaremos a ler respostas padronizadas "sempre atentas ao mercado" no Fórum Vodafone?

NOS e MEO são os fornecedores de TV na Apple TV em Portugal. A corrida começou há mais de um ano e meio e a Vodafone ainda nem sequer arrancou.

E agora, Vodafone?


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Publicado a
Opinião